Não há motivo para alarme, neste momento. É a postura dos representantes dos diretores escolares e dos pais em relação à evolução do novo coronavírus. Consideram que as medidas de higiene e veiculação de informação estão de acordo com o risco existente em Portugal (onde há quatro casos confirmados de Covid-19) e acreditam que os alunos compreendem a situação. “As escolas estão preparadas e vão estar mais preparadas, se for preciso. Estamos a viver numa relativa tranquilidade”, diz, ao DN, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).
A confirmação dos primeiros quatro casos positivos no país, esta segunda-feira, não alterou as recomendações para as escolas, que não têm registo de nenhuma confirmação de Covid-19. Informação e prevenção continuam a ser as palavras de ordem. “Os alunos vivem normalmente e não entraram em histeria. Só têm de reforçar os cuidados de higiene”, indica Filinto Lima. Mesmo em relação à escola em Vila Nova de Gaia onde, na semana passada, pais decidiram não deixar os filhos depois de terem tido conhecimento de que uma criança tinha regressado de Itália, o presidente da ANDAEP garante que a situação já foi ultrapassada. Tratou-se de um caso de desinformação flagrante, segundo o professor, e já foi corrigido.
Não se confunda tranquilidade com falta de preocupação. O presidente da ANDAEP informa que a instituição está a monitorizar “ao minuto” a expansão do surto, que começou na China no final de 2019, e que está em contacto permanente com os ministérios da Educação e da Saúde. “Estamos a ser cautelosos e a prepararmo-nos para aumentar o grau de exigência, se assim for necessário. Mas é importante lembrar que os planos de contingência que vamos ter de fazer não são uma novidade. Já tivemos de os preparar quando foi a gripe A [2009] e as escolas saíram-se muito bem”, diz Filinto Lima.
Nem a ANDAEP, nem a Confederação Nacional de Associações de Pais (CNAP) tiveram conhecimento de nenhuma falha na abordagem das escolas às recomendações. No entanto, o DN ouviu relatos de várias instituições de ensino onde professores e pais insistem em dificuldades básicas de manutenção, por exemplo, falta de sabão. São os pais que levam estes produtos para a escola. “Nós sabemos que há alturas em que estes serviços são muito demorados, que falta papel higiénico nas escolas e que se pede aos pais para levarem. Agora, não passa pela cabeça de ninguém que uma escola com centenas ou milhares de alunos não tenha sabão”, comenta Jorge Ascensão, presidente da CNAP.
Sobre a hipótese de uma escalada do número de casos, que atinja a comunidade escolar, ainda não há indicações claras de qual é o procedimento a seguir. A diretora-geral da saúde, Graça Freitas, repete a máxima “vamos preparamo-nos para o pior e esperar o melhor”, mas no caso das escolas as medidas para um cenário mais negro ainda estão por estudar. Confrontado com a possibilidade de recorrer ao esquema de telescola, tal como está a acontecer no norte de Itália (o país da Europa onde se registam o maior número de infetados e de vitimas mortais), Filinto Lima diz: “Nós não estamos a pensar nisso sequer. Não estamos ainda nesse patamar de ação. Se isso amanhã fosse necessário? Eu tenho dificuldades em acreditar que fosse implementado, não seria fácil”.
Cancelar viagens de finalistas sem perder dinheiro
A Direção-Geral da Saúde pede aos alunos para refletirem no risco associado a uma viagem ao estrangeiro, nesta altura. Não proíbe, mas desaconselha. Os representantes dos pais e dos diretores referem ter conhecimento de que os estudantes estão a ter estas indicações em conta e que se têm esforçado para desmarcar as idas ao estrangeiro. No entanto, têm sentido dificuldades em cancelar as viagens reavendo o seu dinheiro. “Os pais estão ansiosos para que as viagens sejam canceladas e as associações de estudantes com quem eu falei também estão conscientes do risco, mas a questão que se está a colocar é que há dinheiro que já foi pago. E eles estão com pena de terem gastado dinheiro, que provavelmente as famílias não têm para lhes pagar uma nova viagem”, explica Jorge Ascensão.
Pedem, portanto, à tutela para se envolver e tomar uma atitude mais “clara e concreta no que diz respeito à informação sobre as viagens de finalistas”. “Estamos a falar de milhares de jovens que viajam para o sul de Espanha nas férias da Páscoa [em abril] e não é só a probabilidade de infeção dos jovens, é também o risco de propagarem essa infeção pelas famílias e comunidades escolares” continua o representante das Associações de Pais.
A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) elaborou um guia para ajudar os cidadãos com viagens marcadas para o estrangeiro a defenderem os seus direitos. Para já, só é garantido o reembolso no caso de uma viagem de avião não se realizar devido a restrições impostas pelas autoridades de saúde de algum país ou de uma região. “Nesse caso, o viajante tem direito a ser reembolsado no prazo máximo de sete dias”, informa a Deco. Apesar disto, os autores do documento incentivam quem tenha uma viagem agendada a negociar com o operador turístico, no sentido de, pelo menos, conseguir uma remarcação.
Os conselhos da DGS para evitar a propagação
Em Portugal, há quatro casos confirmados de infeções pelo novo coronavírus, três no Porto e um em Lisboa. Todos nas últimas 48 horas. Para evitar que a epidemia se espalhe a DGS reforça os conselhos relativos à prevenção: evitar contacto próximo com pessoas que demonstrem sinais de infeção respiratória aguda, lavar frequentemente as mãos, evitar contacto com animais, tapar o nariz e a boca quando espirra ou tosse e lavar as mãos de seguida pelo menos durante 20 segundos. Para a comunidade escolar podem ser encontradas mais informações aqui.
Em caso de apresentar sintomas coincidentes com os do vírus (febre, tosse, dificuldade respiratória), a DGS pede que não se desloque às urgências, mas para ligar para a Linha de SNS 24 (808 24 24 24).
Fonte: DN