A Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI) diz que as regras que a DGS quer aplicar para reabrir as creches põe os educadores “num dilema ético e profissional difícil de resolver pois, garantindo o seu cumprimento, estão objetivamente a lesar o desenvolvimento das crianças”.
Para estes profissionais, as normas que visam travar a infeção por covid-19 nas creches são mesmo “profundamente desadequadas”, por que não só não têm em conta as especificidades do trabalho com crianças tão pequenas como podem ser um obstáculo ao desenvolvimento dos bebés.
“Manter uma distância física de dois metros entre cada criança e impedir que possam interagir entre si, evitar o toque em superfícies, dispor mesas em linha ou crianças colocadas de costas umas para as outras, evitar a partilha de brinquedos e outros objetos, ter adultos de referência (educadoras e auxiliares), com os quais as crianças mantêm vínculos profundos, a usar máscaras, são medidas reveladoras de um desconhecimento sobre a realidade do trabalho educativo em creche e sobre o desenvolvimento das crianças com menos de 3 anos”, nota a APEI em comunicado, no qual considera que as regras “são profundamente perturbadoras, pois representam, tenhamos consciência, uma violência contra as crianças, que deveriam ser as primeiras a estar protegidas”.
“Pegar ao colo, olhar nos olhos e deixar que a criança crie empatia através da expressão facial, falar perto da sua cara e acariciar o seu rosto são afetos que constroem e cimentam as interações e o vínculo entre criança e educador/cuidador. Impedir estas manifestações de afeto ou artificializá-las, com máscaras e distância física, é violentar a relação”, notam os educadores.
Os educadores defendem mesmo que “aprisionar crianças em mesas, espreguiçadeiras ou parques é violentar a criança na sua progressiva autonomia e no seu processo de desenvolvimento, que se promove na exploração do espaço, dos materiais e da sua relação com os outros (crianças e adultos)”.
“É difícil compreender como é possível pensar em reabrir as creches com este tipo de recomendações que, é bom clarificar, vão abranger as crianças maioritariamente oriundas de famílias com condições sociais de maior vulnerabilidade e desigualdade socioeconómica, precisamente as que não terão alternativa a não ser a creche, pois as restantes irão optar por mantê-las em segurança, na sua casa”, critica a APEI.
A associação acha mesmo que as regras definidas pela DGS transformam as creches em meros depósitos de crianças e lembra que “ontrabalho que os educadores de infância (e outros cuidadores) desenvolvem com as crianças é, acima de tudo, pedagógico e educativo e não meramente de guarda”.
“Olhar para as creches como depósitos de crianças e para os educadores de infância como os seus “fiéis depositários” é ter uma visão profundamente redutora da importância que a educação tem nestas idades e é ignorar que os educadores de infância portugueses são os mais qualificados dos países europeus (a par da Islândia), com uma qualificação inicial ao nível do mestrado (ISCED 7)”, frisa a APEI.
A associação revela estar a preparar um documento com orientações alternativas às regras da DGS e “manifesta a sua total disponibilidade para colaborar com a Secretaria de Estado da Ação Social, a Direção-Geral de Saúde e restantes entidades e organismos com responsabilidade nas respostas às crianças com menos de 3 anos, no sentido de encontrar as melhores soluções que as respeitem e acautelem os seus interesses”.