A 9 de Abril último, o Conselho de Ministros aprovou um conjunto de medidas extraordinárias de resposta à situação epidemiológica do novo coronavírus-covid-19, designadamente equacionando a possibilidade de retomar as aulas presenciais dos 11.º e 12.º anos de escolaridade para as disciplinas com exame nacional de acesso ao ensino superior, a partir de 4 de Maio (situação e data a confirmar).
De certa forma, esta pandemia veio acelerar a transição para a sociedade digital e se esta crise provocada pelo surto do novo coronavírus que já demonstrou uma extraordinária capacidade de adaptação das universidades a esta nova situação, também não o pode deixar de demonstrar no âmbito de outros níveis de ensino. Neste cenário de pandemia, em que se registam já 567 mortos em Portugal, a opção pelo modelo de “ensino à distância”, baseada em dois instrumentos de comunicação (as sessões síncronas, recorrendo à plataforma zoom, assim como o trabalho assíncrono), permitindo a substituição das aulas presenciais, é uma boa resposta a este problema de saúde pública, uma vez que os alunos podem acompanhar as aulas mesmo sem computadores, com o recurso a telemóveis ou tablets. Refira-se que, em 2019, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 80,9% dos agregados familiares tinham acesso a Internet em casa e nas famílias com filhos até aos 15 anos a percentagem subia para 94,5%, sendo que 76,2% da população residente dos 16 aos 74 anos utilizava a Internet, sobretudo estudantes (99,6%) e pessoas que completaram o ensino secundário (96,9%) e superior (98,7%). Ora, possibilitar a todos o acesso a estas tecnologias e à Internet é um investimento essencial e uma medida crucial de prevenção no âmbito desta pandemia, estabelecendo-se, por exemplo, com as operadoras de telecomunicações soluções de abertura de banda da Internet.
Como advertiu, a 17 de Abril último, a Organização Mundial de Saúde (OMS), face a esta pandemia – que se propagou a nível mundial a uma velocidade sem precedentes, sendo que já morreram mais de 120 mil pessoas – e especialmente com base no número de novas infecções e de mortos na Europa, ainda não é tempo para aliviar as medidas de isolamento social dado que é precoce pensar que o combate ao vírus está perto do fim porque nesta altura os progressos ainda são frágeis, sobretudo porque ainda relativamente pouco se conhece sobre a doença e o comportamento atípico do vírus. Daí que repensar a reabertura das aulas presenciais ainda este ano lectivo possa ser precipitado uma vez que mesmo que as instalações sejam diariamente desinfectadas por equipas especializadas e aos alunos sejam disponibilizadas máscaras, corre-se o risco de, por exemplo, professores e alunos em sala de aula não respeitarem a distância mínima de segurança.
Além do mais, importa também planear as condições para o próprio início do próximo ano lectivo, mantendo-se, eventualmente, o modelo de “ensino à distância”, tanto mais que, para o Outono – estação do ano propícia a um agravamento da pandemia no hemisfério Norte – alguns especialistas prevêem um novo surto. Assim, e atendendo à hipótese de a vacina contra o coronavírus não ficar pronta em Setembro, a tempo de ser administrada já no Outono, seguindo o ditado “mais vale prevenir do que remediar” – reconheça-se, muito certeiro em termos de saúde – importa antecipar estrategicamente um conjunto de respostas eficazes, que evitem um agravamento do surto nessa altura.
De facto, de forma diferente da resposta que foi dada, por exemplo, ao surto da gripe A – em que além do antiviral Tamiflu surgiu rapidamente a possibilidade da vacinação contra o H1N1, o que permitiu imunizar em segurança uma parte da população – nesta pandemia ainda não se conhece nem uma resposta ao nível da existência de vacinas nem de antivirais, sendo que no continente europeu (ao momento, o espaço onde se registam mais casos) o surto apenas tem sido combatido, na generalidade dos países, com o isolamento social e o confinamento da população. E não podemos perder os resultados deste esforço colectivo de confinamento no regresso às aulas presenciais, importando evitar o contágio de professores, alunos e trabalhadores não docentes e as respectivas famílias.