Os tempos são de exceção, mas o ano escolar não pode ficar suspenso – os alunos têm de continuar a aprender e têm de ser avaliados. E há respostas sociais que não podem esperar. O Ministério da Educação está a estudar com as escolas e com ministérios como o da Economia, o do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, o da Coesão Territorial e o do Ensino Superior os próximos passos e que terão de começar já a ser dados no terceiro período – cuja forma de funcionamento será divulgada até 9 de abril.
Em declarações ao i, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, refere que “houve um consenso muito alargado de que os professores tinham já elementos para realizar as avaliações do 2.º período”, referindo que agora é preciso preparar o futuro: “Estamos a trabalhar com as comunidades educativas e também outros responsáveis, desde o trabalho à economia, da coesão ao ensino superior, segundo um princípio fundamental: que tenhamos justiça nos processos de aprendizagem e avaliativos”.
O governante não esquece ainda o papel das famílias por estes dias: “Estão a fazer um trabalho inexcedível para acompanhar os seus filhos em todo este novo processo de ensino-aprendizagem, tendo de compaginar com a sua atividade profissional, também ela alterada por causa deste surto”.
A rápida adaptação à nova realidade Ao i, Tiago Brandão Rodrigues garante que tem assistido já a grandes progressos na adaptação das escolas ao momento que o país atravessa. “As comunidades educativas têm vindo a adaptar-se, de forma notável, a esta realidade que é nova para todos. O Ministério da Educação tem trabalhado de forma muito próxima, produzindo recursos e orientações, auscultando sempre as comunidades. E temos visto, de dia para dia, progressos muito significativos neste processo que é novo e exigente para todos”.
Deixando claro ser “muito importante que os estudantes possam reconstruir uma rotina de aprendizagem nesta fase”, “mantendo o contacto próximo com os professores”, o ministro sublinha que apesar das contingências “a escola não pode […] abdicar da sua função primordial e que todos reconhecemos: o seu papel educativo, o de promover as aprendizagens e o crescimento integral de todas as crianças e jovens”. Uma função, diz, que “implica uma responsabilidade muito grande, a de não deixar ninguém para trás”.
Escolas servem mais de 6 mil refeições por dia Há muito que as escolas deixaram apenas de ser um espaço de aprendizagem e desde que as escolas fecharam devido ao surto do novo coronavírus que a tutela assegurou o fornecimento de refeições aos alunos de famílias com problemas financeiros. Brandão Rodrigues conta ao i que essa resposta social tem funcionado e faz um balanço: “Continuamos a servir mais de seis mil refeições diárias a alunos carenciados”. Só esta quarta-feira foram servidas cerca de 8 mil refeições.
Além disso, lembra que existem estabelecimentos que se mantêm abertos “para receber os filhos dos profissionais que têm de continuar a trabalhar fora de casa”. Escolas que segundo dados da tutela dão resposta a 150 menores cujos encarregados são trabalhadores de serviços especiais.
Se não houver acesso a tecnologia, nem que seja por telefone As cantinas respondem a alguns casos, o ensino presencial a outros, mas há outros casos que precisam de uma solução urgente, como o dos alunos que não têm acesso a um computador em casa não podendo por isso aprender à distância. “Vivemos num mundo de desigualdades profundas, que se expressam também no acesso às tecnologias da informação e comunicação”, começa por referir Tiago Brandão Rodrigues, adiantando que nesses casos tem sido feito um trabalho conjunto com escolas, empresas e autarquias, “de forma a encontrar soluções de acesso mais alargado às tecnologias”. E, sempre que tal não for possível, esclarece, o objetivo será o de “assegurar o trabalho dos alunos […] através de meios mais tradicionais como, por exemplo, o telefone, a televisão ou a rádio”.
“É fundamental todos estarmos alerta para casos de eventual exclusão e podermos contribuir, encontrando vias alternativas para que todas as crianças e jovens tenham realmente acesso ao conhecimento e possam continuar a aprender”, alerta. Num momento “tão atípico”, em que “obviamente existe ansiedade”, o ministro da Educação salienta que nem tudo pode ser resolvido de um dia para o outro e insiste na “consolidação das pontes entre as famílias e a escola”.