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Boa educação versus má educação – Dinis Salgado

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Em 1994, se a memória não me falha, o jornalista Vicente Jorge Silva apelidou de geração rasca os jovens de 16/17 anos que, na rua e nas escolas, contestavam a realização de provas globais com recurso ao palavrão e ao insulto; e, inclusive, seis desses alunos, durante uma manifestação arrearam as calças mostrando o rabo à ministra da Educação.

Hoje, nas escolas, os professores retratam os filhos de muitos desses jovens de geração dos três is: ignorantes, irresponsáveis e incompetentes; e as redes sociais mostram à saciedade o seu caráter e desempenho cultural como declaradamente reprováveis e deprimentes.

Mas, então, estará garantido o direito constitucional de acesso e sucesso educativos como os governos tanto gostam de propalar? Não, claro que não, porque, acesso à parte, o sucesso educativo tem muito a ver com a condição social dos alunos; e, daí, os rankings que, de tempos a tempos, são feitos e propagandeados ignoram esta fundamental verdade, quando misturam escolas públicas e privadas na mesma avaliação.

Sabemos que há obstáculos e restrições que impedem o êxito ou inêxito de um aluno no seu percurso escolar e educativo, como, por exemplo, o impedimento ao direito dos pais na escolha da escola e do tipo de educação que pretendem para os filhos; porque uma coisa são os projetos educativos de cada escola e outra bem diferente é eles irem de encontro aos objetivos claros e confessionais de educação/aprendizagem.

Depois, há ainda a ter em linha de conta a formação académica dos pais que, quando é de nível médio ou superior, garantem aos filhos o apoio à sua escolaridade e formação, acompanhando, vigiando e corrigindo o seu desempenho; e, quando necessário recorrem ao apoio extraescolar, seja em explicações, seja noutros recursos educativos (em tempos, estudos feitos sobre esta problemática chegaram à conclusão de que os filhos de professores do primeiro ciclo eram dos mais bem sucedidos nas universidades).

Daqui se infere que, quando entra na escola, o aluno leva na mochila muito mais do que cadernos, livros, lápis e demais apetrechos escolares; pois ele transporta também as suas condições de origem, os seus contextos socioeconómicos e as suas competências cognitivas e intelectuais, desenhando, à partida, caminhos e rotas divergentes que conduzem ao bom acesso e melhor sucesso escolar e educativo.

Pois é, podemos concluir, grosso modo, que a boa educação e aprendizagem é para as classes mais ricas e socialmente bem-sucedidas, enquanto para os remediados e pobres resta a má educação; e a boa educação acontece quando a escola e os pais se empenham no sucesso escolar dos alunos e dos filhos e a má educação, pelo contrário, surge quando estes pressupostos não existem ou são negligenciados.

Não ignoremos que, hoje, a indisciplina, o desinteresse, a asneirada e a contestação entraram na escola por força das ideologias de extrema-esquerda e de extrema-direita; e, assim, os professores dificilmente conseguem transmitir eficientemente as noções básicas de ensino/aprendizagem, como mais difícil ainda se toma a discussão, validação e aceitação dos princípios, critérios, atitudes e valores de cidadania democráticos onde reina a má educação e a política da permanente contestação e de terra queimada de alunos, de professores e de pais que apoiam e, até, promovem a libertinagem e o pós-modernismo reinantes.

Portanto, a meu ver, o sucesso educativo só pode alcançar-se se, prioritariamente:

– forem garantidos o apoio escolar e social a todas as famílias, mormente às mais desprotegidas, negligenciadas e necessitadas;

– houver da parte de todos os professores maior sensibilidade e atenção às capacidades dos alunos, ao ritmo de aprendizagem individual e ao apoio aos mais fracos, ou seja com maiores dificuldades ou desinteresse;

  • for alcançada uma cabal melhoria das condições económicas, familiares e sociais das famílias;

  • houver uma efetiva valorização, motivação e incentivação da classe docente que passam decididamente pela melhoria das suas condições de trabalho, de uma política de colocação séria, de salários justos e de formação pessoal e profissional didática, quer pedagógica adaptadas às exigências das escolas e ao futuro do próprio país;

  • houver da parte do ministério da Educação uma política de verdade que ponha termo à demagogia e desnorte reinantes e permita que os professores exerçam a sua primordial missão de ensinar e educar, libertando-os de tantos projetos desnecessários, de tantas funções administrativas e ações burocráticas a que eles se sentem obrigados e espartilhados.

Pois é, se ansiamos um país mais próspero, desenvolvido, justo, livre e democrático e que caminhe no pelotão da frente da União Europeia não é com a organização, funcionamento, trabalho e desempenho da maioria das escolas que temos que o vamos alcançar; e se o futuro dos nossos filhos já começou ontem, a maioria das escolas que temos longe está de o garantir e alcançar com o desejado êxito, pois a Educação tem sido dos setores de atividade do país que menos tem sido reformulado, incentivado e apoiado.

Então, até de hoje a oito.

Diário do Minho