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B-learning: estamos preparados?

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Idealmente, as aulas voltariam ao normal já em setembro: tocaria a campainha e começaria a correria salas adentro. A agitação e o barulho dos miúdos entusiasmados com o regresso. Idealmente, seria assim, mas a probabilidade é baixa. A possibilidade de uma segunda vaga de pandemia – sem falar no arrastar desta primeira vaga – já levou o Ministro da Educação a admitir um modelo de ensino misto no próximo ano letivo, onde se alie a formação online a alguns momentos físicos na escola, dentro do possível – o chamado blended learning, comummente designado de b-learning. Faz sentido. Creio até que, com o proliferar de tecnologias, o caminho nos levará para que este seja um modelo cada vez mais frequente. Mas não estamos, para já, preparados e é preciso reagir com urgência.

A crise pandémica que se tem vivido chamou-nos a atenção para um problema que, no dia a dia, passava praticamente despercebido: 200 mil alunos não têm acesso a meios digitais que lhes permitam acompanhar a escola online. Como vão estas crianças evoluir na vida académica no próximo ano? Que medidas estão a ser tomadas para mitigar esta lacuna? Não é a Educação um direito, tal como indica a Constituição? Sendo um direito, não deveria o Estado garantir que todas as crianças têm as condições necessárias para aprender? Percebo que em março, quando fomos todos mais ou menos apanhados de surpresa, era difícil tomar medidas a pensar no futuro.

O urgente era resolver o presente e para isso voltou-se ao passado – oh, a rica telescola, que ninguém esperava que pudesse um dia voltar. Mas agora, com a experiência que temos tido, e olhando também para outros países, que nos devem servir de exemplo, não há desculpas para não se preparar convenientemente o retomar das aulas. O Governo já anunciou que vai dar computadores a 300 mil alunos, uma medida que será implementada gradualmente, mas que, se tudo correr bem, chegará a tempo da próxima temporada escolar. Resta-nos fazer figas!

Mas se as verbas faltarem, que não seja uma desculpa: este apoio pode chegar, por exemplo, por mecânicas de empréstimo de equipamentos às famílias que o necessitarem, em parcerias com câmaras municipais ou empresas privadas, garantindo que ninguém fica para trás. Defendo mesmo que, a médio-prazo, se deve rever a forma como se ensina em Portugal – à semelhança do que começa a ser feito noutros países. Se o mundo é cada vez mais tecnológico, faz sentido acompanharmos essa mudança e adaptarmos também a Educação a esse paradigma. Acredito – ou, pelo menos, quero acreditar – que não pode estar longe o futuro em que veremos tablets a serem uma ferramenta obrigatória nas escolas, substituindo os habituais livros.

Neste cenário, os equipamentos já seriam comprados pelos encarregados de educação que, ainda assim, não teriam despesas extra, já que deixariam de comprar os manuais físicos. As editoras teriam de procurar novas formas de apresentar os seus livros, reinventando-se. Os livros ficariam disponíveis online, acessíveis a todos. Os professores poderiam ter um papel mais participativo na criação de materiais de trabalho – e porque não dos manuais? – e também os jovens teriam uma participação mais ativa na sua educação, já que, em vez de estarem simplesmente a ouvir, precisariam de procurar, criar, mudar, experimentar, o que os faria também desenvolver uma série de skills paralelas, como resolução de problemas ou criatividade. Faz-me sentido. Resta fazer por isso. Resumindo, não é só com mais PC’s que se vai resolver esta questão, é preciso mudar também substancialmente a forma como se dá as aulas e se transmitem os conhecimentos aos miúdos. E miúdos à parte, há que não esquecer os professores e as próprias famílias.

Quem prepara as famílias para esta nova realidade? E os professores, que são já uma classe envelhecida, e que tantas dificuldades demonstraram ter para se adaptar às aulas digitais, vão conseguir inovar para fazer com que o b-learning funcione e não seja só um “desenrasque”? Não sei. Mas sei que ninguém nasce ensinado e que, aqui, formação e preparação são palavras-chave. Patrick Götz, fundador e CEO da Teckies

Dinheiro Vivo