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As propostas | Danos Colaterais – Carlos Santos

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DANOS COLATERAIS

Até aqui, um professor com menos de 6 tempos letivos era considerado “horário-zero”. Segundo o acordo de princípios apresentado pelo ministério, basta que não tenha 8 tempos (o que irá englobar um maior número de professores) para entrarem na “Gestão da componente letiva dos docentes de carreira com insuficiência de tempos letivos (DACL), dentro dos limites geográficos dos novos QZP, com possibilidade de completamento de horário noutro AE/EnA”.

Sendo um facto que grande parte destes professores ficaram sem horário devido aos mega agrupamentos, à reestruturação da rede escolar, ao fim do par pedagógico de EVT e de ET do 3º ciclo, na verdade, na maioria dos casos, a sua situação de precariedade nunca foi resolvida.

Encontrando-se grande parte vinculada a agrupamentos de escolas distantes da sua residência, fazer a gestão destes professores entre agrupamentos – não dentro do mesmo município, mas entre vários concelhos – só iria criar ainda mais instabilidade a estes docentes. Professores que, além de terem de se deslocar para o seu agrupamento, teriam agora de somar ainda mais quilómetros deslocando-se entre concelhos, obrigando muitos deles a terem de voltar a abandonar as suas casas e as suas famílias e, novamente, ao arrendamento de uma segunda habitação.

No âmago, as propostas da tutela estão repletas de injustiças, potenciais ultrapassagens, colocações de professores em locais indesejados e outras armadilhas que atirarão muitos, durante muito tempo, para uma situação difícil e pior do que o esperado.

Estes professores com anos de experiência acumulada, na esmagadora maioria, já fizeram sacrifícios pessoais durante décadas a percorrer escolas do país para terem um lugar de quadro de agrupamento e que, com esta proposta, sem terem pelo menos 8 tempos letivos, seriam enviados para os agrupamentos de origem, sujeitando-se a serem joguetes nas mãos dos diretores, andando de escola em escola e de terra em terra. Uma situação humilhante e de enorme vulnerabilidade que convida os professores a serem “pau para toda a colher” ou, ao fim de 3 anos, a perderem o vínculo ao estado. Até agora, eram colocados em horários das escolas para onde concorriam, mas que, de acordo com a vontade do governo, futuramente passariam a ficar numa situação altamente fragilizada para serem descartados.

Porém, professores já com imensos anos de serviço, mas ainda longe da idade da reforma, que seriam convidados a sair do sistema educativo, não provoca nenhuma revolta?

A denúncia desta injustiça não tem a ver com o “Respeito” que os professores tanto exigem?

Serão estas as melhores condições de trabalho que os professores pedem?

São estas as soluções que este governo apresenta para vinculação e criação de mais estabilidade para os professores?

Resoluções selvagens e degradantes que irão piorar ainda mais a vida dos docentes seguem a mesma linha de atuação que tem vindo a ser seguida desde há muitos anos.

Torna-se evidente que esta medida não tem outro propósito que não seja empurrar os professores nesta situação a concorrerem a todo o país ou a retirarem-se do sistema de ensino. Que belo gesto de gratidão pelo longo trabalho desempenhado em prol da qualidade do ensino!

De facto, este será, claramente, o grupo de professores que sairá mais prejudicado com esta proposta do executivo… e disto, aparentemente, pouco se fala.

Seria lamentável que algum sindicato venha a considerar que estas negociações terão um desfecho feliz caso se mantenha esta proposta indecente.

Só espero que a classe não abandone estes professores, entregando-os às “feras”, entabulando por interesses individuais.

Que nesta luta, que é de todos e por todos, ninguém seja deixado para trás, ou seja visto como um mero dano colateral a ser sacrificado, senão, no fim de toda esta luta, nada mais restará da classe do que um saco de gatos, cada um a puxar por si.

Numa luta na qual ninguém poderá sair prejudicado e, de alguma forma, todos terão de ter algo a ganhar, que não se assine acordo algum que prejudique nem que seja um único professor.

Carlos Santos