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As Escolas e as 2ª e 3ª Vagas – Paulo Prudêncio

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“A reabertura das escolas foi uma das decisões mais relevantes para a 2ª vaga pandémica na Europa e na América do Norte”, é uma evidência científica recente (09/12/2020) relatada pela epidemiologista australiana Zoe Hyde (também exerce na Austrália, o que evita desvalorizações por suposta parcialidade, e é Research Officer na Faculty of Health and Medical Sciences da UWA Medical School). Lê “nesta ligação” o estudo muito bem documentado onde cheguei através do blogue Escola Portuguesa.

O estudo apresenta as seguintes conclusões (saliento nove):

1. As escolas são locais de risco elevado porque têm espaços fechados e aglomeram pessoas;

2. Os riscos aumentam sem distanciamento físico, sem ventilação de espaços, sem higienização de equipamentos e sem uso de máscaras;

3. Turmas mais pequenas e ensino semi-presencial são medidas eficazes para tornar a frequência das escolas mais seguras;

4. As crianças não são menos susceptíveis aos contágios;

5. As crianças não têm menor capacidade de transmissão do que os adultos;

6. É difícil detectar a infecção nos mais jovens porque muitos permanecem assintomáticos e, intencionalmente ou não, fazem-se menos testes a esses grupos etários;

7. Os estudos mais aprofundados demonstraram que, devido à forma como a doença evolui nos organismos dos mais novos, é mais frequente a ocorrência de falsos negativos. As crianças transportam o vírus e transmitem-no sem que seja detectado pelos testes de antigénio (os mais habituais);

8. Quando existe transmissão comunitária do vírus, e se fazem rastreios sistemáticos nas escolas, regista-se a existência de surtos activos com a propagação do vírus entre elementos da comunidade escolar;

9. Já se sabe que quando o número de casos atinge, na comunidade, valores alarmantes, o confinamento da população escolar é uma das medidas mais eficazes para, a curto prazo, reduzir a propagação.

No centro da Europa, há regiões com mais capacidade financeira que usaram turmas mais pequenas (meia-turma presencial) na 2ª vaga, que optarão por ensino online associado a turnos ou desdobramentos a partir de Janeiro e com o início das aulas agendado para o fim da primeira quinzena desse mês. Na Alemanha, essa discussão escolar é também nuclear. As restantes regiões europeias, principalmente as mais pobres e com escolas, e turmas, numerosas, devem informar e rastrear com rigor se não quiserem (não puderem ou não as deixarem) aplicar as mesmas soluções. Devem usar toda a informação obtida, com o objectivo de que as crianças e os jovens não continuem a infectar, nas comunidades, grupos etários mais idosos e originem surtos que aumentam os internamentos hospitalares.

Para além disso, espera-se que não se repitam os seguintes números e conclusões: as escolas registam apenas 3% dos locais de contágio (esses números salientavam os tais 61% em habitações e festejos familiares) e as escolas massificadas são seguras. Como nos recordamos, uma ou duas semanas depois destes dados revelaram-se números muito diferentes: “desconhecem-se 81% dos locais de contágio, a pandemia galopou na população em idade escolar e é nesse grupo etário que existe a maior subida no número de infectados“. Já agora, a tão propalada envelhecida classe de professores lecciona com mil e um cuidados, e por sua exclusiva conta e risco, e reconhece que, definitiva e objectivamente, este não é um país para professores; nem para os outros profissionais da educação. A escola continua na primeira linha da guarda das crianças e jovens, mas mantém-se na terceira linha das prioridades organizacionais dos governos.

No que verdadeiramente conta na crise pandémica, e para além da muito positiva ajuda europeia às falências e ao desemprego, as mortes aumentaram muito na 2ª vaga (em Portugal duplicaram ou triplicaram) e teme-se, apesar da esperança na vacina, que os números subam ainda mais numa previsível 3ª vaga que acontecerá pela 1ª vez em pleno inverno.

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