Regressar ao ensino à distância no início do mês de fevereiro foi sentir, mais uma vez, uma rutura na continuidade dos percursos de aprendizagem globalmente delineados para os alunos, tendo em conta as diferentes dimensões do ser humano e as trajetórias académicas percorridas por cada um até ao momento.
Desde o planeamento, à execução e posterior avaliação das experiências vividas que ensinar e aprender remotamente, em contextos multiculturais e tendencialmente vulneráveis, caracterizou-se por um inesquecível quebra-cabeças, dos mais desafiantes que existem, para as comunidades escolares!
A definição das sessões síncronas e assíncronas, a articulação entre os intervenientes no processo educativo dos alunos, bem como a organização de recursos promotores de aprendizagens motivadoras, coerentes com os assuntos em estudo e significativas, traduziram-se em muitas horas de trabalho para os professores, tendo como limite o infinito, quando se trata de fazer o melhor pelos seus “meninos”.
E num ápice terminou a interrupção letiva, tempo de preparar o que estava para chegar, mas sem data para regressar à magia do contexto onde tudo acontece e concretizar verdadeiras e completas aprendizagens.
As semanas subsequentes foram caricatas, árduas, repetitivas, sinuosas, pouco consistentes… em prol dos progressos escolares dos alunos, mas fez-se o possível e, por vezes, o impossível, na atual conjuntura.
Tudo começou pela obtenção dos meios tecnológicos por parte das famílias, a conexão às plataformas digitais utilizadas pelas escolas e o manuseamento das mesmas, mas também o apoio na interpretação dos horários das turmas, devido a alguma iliteracia na extração de significado da mensagem escrita (Sim-Sim, 1995).
Seguiu-se a contemplação de uma panóplia de situações que as câmaras e os microfones deixaram transparecer, sem o intento e a devida autorização dos protagonistas e que suscitaram sentimentos antagónicos, tanto de profunda tristeza e revolta, como de total compreensão e respeito pelas suas vidas.
A entrada diária em casa das famílias e destas, nas dos professores, permitiu compreender melhor a realidade de cada criança, as interações que estabelecem com os seus familiares e os alicerces cognitivos, sociais, emocionais… que as sustêm. Este confronto com a realidade foi mais um objeto de reflexão para os docentes, que mesmo estabelecendo sólidas relações escola-família e vice-versa, dificilmente identificam pormenores tão relevantes e translúcidos através do regime presencial, acerca do quotidiano dos alunos.
Passar por frequentes provações, sempre fez parte do papel do professor, cuja convicção é a de enfrentar a diversidade de desafios com que se depara, em prol da melhoria da aprendizagem das crianças, ao longo da sua extensa e pouco reconhecida carreira.
Andreia Araújo