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“Amanhã, voltaremos a deixar sós aqueles que hoje não despirem Abril” – Luís Costa

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25 DABRI SEMPRE

 

Ainda bem que no 25 de abril é sempre feriado e a maioria não vai trabalhar! Ainda bem que assim é, porque assim todos podemos ser abrileiros de alma e coração, postar cravos, postar canções, gostar das valentes tiradas, abrilmente inspiradas, e carimbá-las com corações vermelhos. Ainda bem que assim é, porque assim podemos ver filmes alusivos, ouvir generosamente os mais velhos, ousar pôr um punho no ar e até jurar, aos nossos botões, amor e fidelidade para a vida. Ainda bem que é sempre feriado nesta Data Querida! Se assim não fosse…

 

O que faremos amanhã, ou hoje ainda?

 

Amanhã — ou hoje ainda, no correio eletrónico institucional — voltaremos a ser nós mesmos, vestidespindo o Carnaval. Amanhã, ou hoje ainda, negaremos três vezes Portugal, e seremos silente ferrugem de Abril. Amanhã, ou hoje ainda, enjaularemos a paloma branca e esqueceremos o cravo num canto qualquer. Amanhã, ou hoje ainda, daremos caça aos valores hoje aclamados. Acocorados, calados, rendidos, submetidos, amedrontados, acobardados, comprados, vendidos ou simplesmente instalados, negaremos Abril vezes mil. E mataremos as nossas palavras aladas, e amordaçaremos as nossas palavras sinceras, e censuraremos as nossas palavras ditas, e diremos “SIM” e “SIM” e “SIM”… Amanhã, voltaremos a deixar sós aqueles que hoje não despirem Abril, aqueles que disserem “NÃO” e que erguerem a voz e que ousarem hastear verdades inconvenientes. Seremos todos intransigentes e renegá-los-emos e, se preciso for, cravar-lhes-emos punhais de palavras nas costas. Amanhã, voltaremos à conveniente e aleivosa cinzentura, porque é dela que nos vem o pão e a água e o conforto e a proteção… Amanhã… salve-se quem puder!

 

Ainda bem que o 25 de Abril é sempre feriado, porque assim será “Abril para sempre!”, ainda que plantado, e bem iluminado, na dourada galeria, do adorado museu da consciência, ao lado da Independência, da Implantação, da Imaculada Conceição, do 1 de Maio, da Páscoa, do Natal… do Dia de Portugal! Ainda bem! Ainda bem! Ainda bem!

Luís Costa