(texto muito longo de leitura indispensável para quem ache que um diretor copiar na sua avaliação é normal. Especialmente dedicado aos professores do meu agrupamento para ver se acordam da letargia.)
Na questão do plágio a 94% da carta de missão do diretor do meu agrupamento tenho tido muitas surpresas
(quem não souber do que falo, pode ir ao link em que a notícia foi divulgada pela primeira vez).
SURPRESAS….
A maior de todas as surpresas é que há quem tente negar o plágio existente e que é evidente (basta ler e comparar os dois documentos, como fez quem denunciou o caso, com recurso a programas informáticos caça-plagio).
Os negacionistas alegam, muitas vezes, que nem viram porque não lhes interessa. Não abona para a sua racionalidade….. É como as crianças que tapam os ouvidos para não saber das asneiras…..
O visado como plagiador, nestas semanas que o caso já dura, não negou em momento nenhum a evidência. Tem fugido ao confronto sobre os factos objetivos.
Mas. em declarações públicas, já tentou argumentar ao lado, para desviar atenções.
Truque velho e que muitos põem em prática, nestes tempos de pos-verdade.
Encolher-se, para ver se passa.
Alguns seus apoiantes, na defesa do indefensável, tentam articular uns argumentos.
Além de ter visto, alguns que já falaram comigo, virem com ideias peregrinas de que “me fica mal”. Como se eu fosse alinhar com a fraude para parecer bem.
A única resposta possível, que resolveria o problema e o faria desaparecer, era dizer (e PROVAR) que os textos em causa não são iguais (a 94%). E que a carta de missão do diretor em causa é uma criação original.
Isso é impossível de afirmar porque foi copiada de outra, logo, há plágio.
Então usam-se ARGUMENTOS AO LADO
1- “A CARTA DE MISSÃO NÃO É UM DOCUMENTO IMPORTANTE.”
A carta de missão são os objetivos da gestão, durante o mandato do diretor e a avaliação do diretor é feita pela comparação entre o seu relatório e os propósitos (mensuráveis) que põs na dita carta (que é obrigatória).
O instrumento existe para os dirigentes de organismos públicos e, para não nos confundirmos com tretas, pode ser lido o que a DGAEP escreve sobre isso no seu site em que explica o que é e porque vigora para a duração do mandato.
2-VARIANTE DO ARGUMENTO DA TRETA ANTERIOR: “AQUILO SÃO UNS CHAVÕES TRANSVERSAIS A TODAS AS ESCOLAS” E “SÃO TODAS IGUAIS”
O argumento é falso (o que se prova documentalmente) e insulta a inteligência de quem o ouve.
Basta pesquisar na Internet e ver as dezenas de cartas de missão de escolas, todas diferentes umas das outras e que são, como devem ser, específicas na sua abordagem das escolas.
E se fossem todas iguais, isso não era normal, era só plágio generalizado. E foi verificado e não é assim (detectou-se um caso, que é o da Abelheira, as outras são diferentes e substancialmente).
3- A CARTA DE MISSÃO SÓ INTERESSA À AVALIAÇÃO DO DIRETOR E ATÉ PODE SER DISPENSADA.
Isso é MENTIRA, porque os diretores têm de ser avaliados com base nela pelos Conselhos gerais e a forma como isso se faz tem influência na avaliação externa do agrupamento, que condiciona as quotas da ADD dos professores.
Aldrabices, como a detectada, podem prejudicar outras pessoas, que se podem queixar e trazer problemas a mais gente que o autor da proeza.
E a lei não prevê dispensa nenhuma, antes obriga à entrega e com prazos claros.
4-“TODOS COPIAM E QUAL É O PROBLEMA?”
Isto nem chega a ser um argumento, é uma CONFISSÃO e uma CONFIRMAÇÃO de que, quem acusa, tem razão.
“Fiz porcaria, mas qual é o problema de cheirar mal?”
E, numa escola, normalizar o plágio é uma perversidade ética e um contributo miserável para a degradação da imagem e qualidade do sistema de ensino e dos educadores.
5-“A ACUSAÇÃO É UMA PERSEGUIÇÃO E UMA CABALA” de gente que não gosta do diretor.
Já ouvimos muitas vezes esta conversa da treta de responsáveis políticos e administrativos, apanhados em falso e que querem fugir aos factos.
Percebo que o plagiador preferisse que, entre discutir-se o que está escrito e as palmas que recebe das pessoas, junto de quem se faz de vítima, se fosse mais pelo lado da emoção e falácias.
Não é por ter alguma gente distraída a dar-lhe afeto e a bater palmas, quando se fala disto (tristemente muitos professores, alguns com agenda própria de interesses) que um plagiador o é menos e o problema vai desaparecer.
E quem “persegue” também têm custos, com a má cara no seu local de trabalho dos que alinham com o poder e o risco de afrontar em nome da verdade….. E dessa “falta de empatia”, nem falemos….
O problema é que, no meu caso pessoal, não me calam com apupos, fugas histéricas para não ouvir quando estou a falar ou caras feias.
Lido com técnicas foleiras de RGA desde os 18 anos…..
Nem as palmas, e nem sequer os votos, são métodos de descoberta da verdade. A verdade é que os documentos são iguais e para ter a certeza disso basta saber ler: uma criança do 4o ano chega lá.
É triste que, para se ser apoiante do poder a todo o custo, a implicação seja assumir analfabetismo funcional ou seletivo.
6-“SE A CARTA FOI COPIADA ISSO NÃO TEM PROBLEMA NENHUM.”
Nem me ponho a emitir opinião moral sobre professores que já me disseram isto.
Mas tem.
A carta, entregue nestas condições, constitui infração disciplinar e até pode configurar crime público, além de mostrar um ambiente de total impunidade e imoralidade por parte de quem o fez e de quem tal protege.
O Estado não paga suplementos a dirigentes para copiarem documentos, mas para serem inovadores, diligentes e criativos e não encolherem os ombros a dizerem que “são tudo chavões”.
Copiar a carta de missão é como um governo copiar o programa do governo….
Nunca passaria no parlamento e até os deputados apoiantes íam criticar…..
7-OUTRA VARIANTE DO MESMO ARGUMENTO é dizer (e foi feito na reunião geral do agrupamento, com direito a palmas) que o plágio é assunto interno (para o varrer do cenário e asfixiar a minoria que fala do assunto na grande caldeirada do “bom ambiente, positividade, amizade, cooperação e união”). Pelos vistos de inspiração mal lida em Confúcio……
Mas há outros valores: a integridade, a honestidade e até a busca da qualidade ética na educação.
“Pouco ético será quem divulga o plágio” (quem diz isto, é consistente na falta de ética e raciociona como uma anedota que ouvi nos tempos da URSS sobre a senilidade dos seus dirigentes…. “É verdade, mas não se pode falar. Na URSS a idade dos governantes é segredo de estado” ).
Num país, com leis de transparência tão avançadas (o acesso ao que se passa no Estado é um direito constitucional) e que agora até protege whistle-blowers, é ridículo dirigentes de escolas discursarem tão sobranceiros na defesa das suas próprias desonestidades, atirando acusações a outros, sem falarem dos factos.
Na mesma sessão, perante os seus colegas ainda citaram Paulo Freire e falaram de educação para a cidadania.
EM SÍNTESE…..
A única discussão que realmente interessa é:
Houve um plágio substancial (94%), despudorado e provado de forma segura e cristalina, num documento de avaliação pessoal, feito por um PROFESSOR E DIRETOR numa escola.
Sabe-se há mais de um mês nos órgãos da escola. Há 3 semanas é público. Deu notícias.
Que vão fazer, por esta ordem,
os professores (visados pelo ato na sua dignidade profissional),
o Conselho Geral (eleito também por professores que devem representar),
os organismos administrativos de controle (IGEC, DGESTE E DGAE que já sabem dos factos) e
o último responsável político, o ministro, que, para mais, fora da política, é um académico e professor universitário reconhecido (para quem o plágio, neste grau, deve ser coisa muito grave, não ouso duvidar)?
Espero não ter de me ir sentar à porta do Presidente da República, também professor, para ver se alguém tem um rebate de consciência e finalmente se percebe o que foi o precedente digno, na correção de um erro, criado por João Grancho como governante.