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Ainda as escolas – Luis Aguiar-Conraria

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Conto-me entre os que ficaram satisfeitos com a decisão da semana passada de não fechar as escolas. Não só fiquei contente com a decisão como ainda mais fiquei com a justificação e com a assunção do erro que foi ter mantido as escolas fechadas em maio e junho do ano passado. António Costa foi enfático ao dizer que os danos causados pelas escolas fechadas eram irreparáveis.

Mas não foi só por ter consciência do drama que são as escolas fechadas que apoiei a decisão. Foi também por desconfiar da eficácia do seu encerramento no combate à epidemia. Bem sei que neste momento se diz que a comunidade científica era unânime no apoio ao encerramento das escolas, mas não é verdade. Em entrevistas, quer o presidente do Conselho Nacional de Saúde quer o do Conselho Nacional de Saúde Pública levantaram sérias dúvidas sobre a vantagem de tal decisão. E, olhando para os trabalhos científicos publicados nos últimos meses, rapidamente percebemos que há estudos para todos os gostos sobre o efeito das escolas encerradas.

Adicionalmente, as escolas foram exemplares no primeiro período. Tudo fizeram para que corresse bem. Não só não foram responsáveis pelo agravamento da pandemia como foi durante as férias escolares que os casos dispararam, muito provavelmente com a ajuda das três semanas de frio intenso que se seguiram ao Natal.

Mesmo sob um ponto de vista mais geral, não há consenso sobre as vantagens dos confinamentos. Num documento de trabalho do NBER — National Bureau of Economic Research, “Four stylized facts about covid-19”, três professores de Economia concluem que é muito provável que se exagere na importância que se dá aos efeitos de medidas como os confinamentos. Num outro trabalho, publicado este mês no “European Journal of Clinical Investigation”, quatro professores de Medicina da Universidade de Stanford concluem que as medidas de restrição de movimentos e ajuntamentos facilitam o controlo da epidemia, mas que o valor acrescentado de medidas radicais, como os confinamentos severos, são quase nulos.

Com os mortos a aumentar e o caos a chegar às urgências, os custos políticos de não se fazer tudo o que aparentemente se pode fazer são insuportáveis

Por estes motivos, concordei com a decisão do Governo de não encerrar as escolas e tive esperança de que fosse possível mantê-las abertas mais umas semanas para ver os efeitos do confinamento light iniciado na sexta passada. Mas tenho de ser realista. Os números desta semana, quer o das mortes quer o de infetados, não o permitem. Com a pandemia descontrolada, a pressão é enorme. Com os mortos a aumentar e o caos a chegar às urgências, os custos políticos de não se fazer tudo o que aparentemente se pode fazer são insuportáveis. Tal como em março o encerramento de escolas foi inevitável, agora também o é. Nem faz sentido discutir se é a decisão certa ou não.

Portanto, os estudantes irão para casa. O debate agora é outro. No ano passado, quem defendeu que as escolas deveriam permanecer abertas no verão para recuperar o tempo perdido era um lunático. Quem pediu que as aulas começassem mais cedo para ganhar avanço à epidemia e preparar um eventual novo confinamento foi desconsiderado. Sublinhe-se que muitos professores deram o litro com as aulas à distância, pelo que era difícil não reconhecer que tinham o direito a férias.

Chegados aqui, o que fazer? Cito António Costa: “Depois de avaliarmos bem as consequências irrecuperáveis para o processo educativo que a interrupção letiva das atividades presenciais teve o ano passado, não podemos voltar a repetir este ano a mesma regra.” Aprendamos, então: a telescola não é solução e o ensino online também não.

No momento em que escrevo, não conheço a decisão do Conselho de Ministros, mas em vez de repetirmos soluções falhadas, melhor seria o encerramento radical das escolas. Sem qualquer simulacro de ensino à distância. Férias, portanto. Em simultâneo, ficava decretado que, por cada semana de encerramento, haverá uma semana extra de aulas — eventualmente, preservando o mês de agosto de férias. Se necessário for, esse compromisso estende-se ao próximo ano, com um ano letivo mais longo.

Em 2020, quando alguns economistas se entretinham com a recuperação em V, argumentava-se que o que se deixasse de produzir com o confinamento seria compensado com um aumento da produção nos trimestres seguintes. Já vimos que isso em economia não é possível, até porque muitas empresas vão morrer pelo caminho. Mas na educação pode ser exequível, desde que haja vontade. Em especial, será necessária coragem política para enfrentar a corporação dos professores e os seus sindicatos.

Se, ao invés, se avançar com o destino à distância, então, no mínimo, as escolas terão de ser mantidas em funcionamento para apoiar os que mais precisam.

Professor de Economia da Universidade do Minho

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