Lembro-me que há anos atrás, havia um sentimento de respeito muito grande para com as autoridades. E quem eram as autoridades? A polícia, o professor, o treinador, os nossos pais e avós. Havia ainda a noção de que os mais velhos tinham de ser respeitados.
Lembro-me também, na altura, de nos sentirmos revoltados com alguns abusos de autoridade. O professor que agredia os alunos de forma violenta, física e verbalmente. O polícia que abusava da sua posição, humilhando quem abordava e agredindo gratuitamente quem “piava”. Os pais que batiam nos filhos com a desculpa de os estar a educar.
Começou-se a generalizar e em vez de se atuar apenas sobre estes agentes de autoridade prevaricadores, de repente todos os professores, pais e forças de segurança eram abusivas. Passámos do 8 para o 80, através de decreto, retirando quase toda a autoridade a quem de devido.
Temos agora uma sociedade com muitos valores invertidos e há muitos que pouco respeitam as regras básicas de educação e respeito. Claro que não podemos, novamente, cair na tentação de generalizar, mas com o crescimento das más práticas, das agressões e do total desrespeito de alguns cidadãos, temos de refletir sobre quais as mudanças a operar, qual o meio termo que previne abusos de ambos os lados. Uma coisa é certa: como está, não está a resultar.
Custa-me perceber que um polícia seja condenado por ter de exercer força para deter pessoas que claramente estão a prevaricar e se opõem à detenção e que nada acontece aos meliantes que agridem agentes de autoridade e os ofendem de forma efusiva em frente da população.
Não consigo aceitar que um professor/treinador corrija um aluno e que os pais diminuam este professor perante o aluno ou mesmo que o agridam em frente de todos, situação tantas vezes noticiada. Muito menos alunos a ofender e a bater em professores sem consequências claras.
Não aceito que crianças e jovens não tenham noções básicas de respeito, como dizer “bom dia”, “boa tarde”, “obrigado/a”, “com licença”, “posso”…. Já para não falar de adultos que assumem estes comportamentos apenas aceitáveis a crianças que ainda estão a aprender, a par com a linguagem, as regras mínimas de educação.
Parece que existe uma certa impunidade para um conjunto de comportamentos.
Talvez seja muito utópica nesta matéria, mas acredito que é possível reverter esta situação com algumas medidas direcionadas para os adultos e para a educação das nossas crianças:
Revisão da legislação relativamente às penas, nomeadamente no que concerne a quem desrespeita as forças de segurança, seja por palavras ofensivas, desobediência ou actos violentos.
Nas escolas adotar medidas disciplinares reais que conduzam ao respeito pela comunidade educativa (porque não pensar em tarefas comunitárias e escolares com programas específicos) e não ter medo ou receio de utilizar a expulsão dos mais velhos do sistema educativo público.
Penas de trabalho comunitário e/ou multa, para encarregados de educação/treinadores que utilizem ou fomentem a violência física e verbal em recintos escolares e desportivos com crianças.
E claro, por último e mais importante, no seio de cada família educar para os valores, para a tolerância com quem é diferente, para o respeito pelo próximo, para as regras básicas da boa educação, mostrar pouca tolerância para os comportamentos agressivos. Também ensinar os nossos filhos a dizerem não ao que está errado, ainda que se encontrem sujeitos à “pressão do líder ou do grupo”.
Muitos estarão a pensar que é impossível controlar os miúdos de hoje. Mas acredito que com empenho (acreditem, sei do que falo)é possível tentar minimizar os comportamentos desviantes. Em primeiro lugar tentar ser o exemplo. Depois porque não começar por ensinar algumas das regras simples que aprendemos (insistindo sempre que necessário): “cumprimentar as pessoas”, “agradecer”, “pedir educadamente”, “não faltar ao respeito aos mais velhos e aos colegas”, “obedecer à professora”, “não dizer palavrões”, “não bater nos outros colegas”. Voltemos ao básico.
… muito haveria ainda por dizer, mas no fundo no fundo, todos sabemos o que temos de fazer e o que é CERTO. Quem sou eu…
Fonte: DNotícias