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A princesa estuda, a plebe fica online

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Está a criar-se uma ideia simpática mas a curto prazo devastadora para o ensino – a de que o ensino online não funciona nas crianças pequenas mas tem vantagens nos adolescentes e jovens adultos. É o mal menor. Outra vez. Nada online tem vantagens a não ser curto período, para pesquisa, por exemplo. Mas isso não é ensino – o que os jovens vão desenvolver online é a rapidez, multitasking, compulsão, que lhes permite aguentar quando entrarem no mercado de trabalho uma linha de montagem, uma tele consulta, uma “aula” online. Ensino é desenvolvimento das funções psíquicas superiores, conhecimento, concentração, abstração, atenção dirigida.
Por estes dias a “casa real espanhola” anunciou que Leonor vai estudar num colégio de ensino secundário em Inglaterra onde, cito “o programa académico dura dois anos letivos (2021-2022 e 2022-2023), com disciplinas de ciências e letras e fica completo com “um curso interdisciplinar comum sobre teoria do conhecimento e uma monografia de caráter investigativo”, “também participará e num programa especial de criatividade com formação em teatro, música, arte, desportos e serviço à comunidade, consistente com o apoio em escolas locais, trabalho com crianças com incapacidade intelectual, terceira idade e primeiros socorros”. Do currículo consta ainda “a aquisição de conhecimentos de manutenção de costas e bosques, controlo de índices de contaminação do meio ambiente e recuperação de espécies animais”. De manhã teoria do conhecimento, com livros, à tarde cultura, arte e vida na comunidade – um ensino quanto a mim perfeito.

A conclusão é óbvia. A plebe fica a carregar num botão, e a olhar para um ecrã 6 horas por dia, seguidos de mais 6 “lúdicas” para garantir que nunca se cansarão numa linha de montagem. A elite vai estudar literatura, filosofia, os fundamentos da ciência, e da vida em comunidade. Os dirigentes e quem tem poder estudam classicamente, enquanto criam teorias sobre as vantagens do online para a plebe que dirigem. Os outros são operadores de máquinas, ainda que possam ser médicos ou professores – o que são chamados é a ser apêndices de um computador. A distopia tecnológica é isto. A escola real é um castelo cada vez mais vedado à maioria da população, que assiste pelo ecrã passiva, com um Ipad oferecido pelas Câmaras, ignorante, repetitiva, compulsiva, sem se desenvolver com humanidade, apartados assim também da democracia.

Raquel Varela