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A melhor nota do 2.º período Por Eduardo Sá

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Parece uma espécie de “manifestação” silenciosa. Mas, nas classificações que lhes atribuíram no segundo período, as notas que muitas escolas deram aos seus alunos terão considerado, sobretudo, os resultados do primeiro período. Por outras palavras, os professores terão entendido as aprendizagens escolares alcançadas durante a quarentena, como pouco “fiáveis”. E, de forma autónoma mas aparentemente “consensual”, não lhes atribuíram uma relevância inequívoca. Fossem elas alcançadas através de testes, trabalhos individuais ou de grupo ou de outros quaisquer tipo de avaliações.
É claro que se poderá sempre argumentar que, havendo aulas e produção de conhecimento, as avaliações terão tido o formato que se entendeu indispensável para que se “aferisse” o nível de aprendizagem de cada um dos alunos. E que, por isso mesmo, sendo as aulas “a sério”, as avaliações não deveriam não contar. E, também é verdade, poder-se-á assumir que o sistema de educativo estará demasiado “viciado” em testes individuais, e que terá alguma dificuldade em diversificar os recursos avaliativos; conciliando formatos de ensino presenciais e à distância, inclusive. E que, ainda, considerando os próximos quatro meses de aulas, e as “recuperações de aprendizagens que eles trarão consigo, que haverá tempo para que, de forma ponderada, as avaliações assumam uma dimensão mais robusta e, porventura, mais justa. Até porque as oscilações dos resultados escolares, neste segundo período, terão permitido perceber grandes assimetrias; repartidas por resultados escolares muito semelhantes aos desempenhos habituais de cada aluno, por subidas “meteóricas” de alguns deles ou por quedas mais ou menos abruptas de outros mais.
É claro que haverá sempre quem afirme que este critério, adotado pelas escolas, pode representar a alteração das “regras do jogo”, após o “apito final” do segundo período. E isso não deixa de ser um argumento com o seu quê de verdade. Ou que pode, também, representar uma desconsideração em relação ao trabalho (inacreditável) dos pais no decurso da quarentena. E isso também não deixa de ser um bocadinho assim. Mas, acima de tudo, a decisão no sentido de não dar relevância inequívoca às classificações escolares deste segundo período, parece traduzir o reconhecimento (sério e humilde!), por parte dos professores, de que as aulas à distância – apesar de todo o empenhamento das escolas e da forma seriíssima com que eles as viveram – não terão correspondido, para todos os alunos, àquilo que era suposto que elas lhes trouxessem.
Ou seja, parece-me que, “no limite”, quando os professores entenderam não dar às classificações escolares do segundo período uma relevância inequívoca, eles próprios estarão a assumir que – pela disparidade dos formatos pedagógicos adotados, pelas assimetrias no acesso ao conhecimento e pela forma como terão sido vividas as avaliações – terá existido tanto “ruído” e ocorreram tantas “turbulências” no processo educativo que o par professor-aluno não terá conseguido atingir os critérios que, em consciência, seria de esperar que se conseguissem para que a avaliação fosse justa. Havendo da parte dos professores, compreensível e elogiosamente, a honestidade de o reconhecer. Contrariando algum clima de “normalidade” que, eventualmente, o próprio sistema educativo foi dando a entender que existiria durante a quarentena. E contrariando, ainda, a opinião (diferente) que a maioria dos pais possam ter acerca duma decisão como essa. Mas, chamando a si a responsabilidade de, neste terceiro período, darem às avaliações, à margem de qualquer populismo, a seriedade que elas merecem. E, sendo assim, é bonito que os professores e os pais deem contraditório ao próprio sistema educativo. Quem fica a perder com isso? Sinceramente (desculpem!) ninguém. Aliás, esta decisão será, mesmo, um exemplo fora do vulgar do que terá sido a melhor nota do segundo período.