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A mediocridade do programa eleitoral do PS para a Educação – Santana Castilho

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O que me tem sido oferecido, em sede de pré-campanha eleitoral, configura desprezo pelo debate social sério, que permitiria apurar aquilo que serve ou não o sistema educativo. Quanto mais olho para o que propõem os partidos políticos com mais probabilidades de virem a ser Governo, mais me sinto em sentido contrário: eles fixados em reforçar as dominâncias que nos trouxeram à mediocridade presente; eu preocupado com modos diferentes de ver o mundo, para que cada um o entenda e não seja escravo dessas dominâncias.

Porque considero todos os programas eleitorais já conhecidos pobres e incapazes de operar as mudanças de que carecemos, aguardava com expectativa o que o PS tinha para nos dizer. A desilusão afundou em gelo essa expectativa.

Presente a carência de espaço para fazer uma análise sistemática e exaustiva, transcrevo em itálico nacos de prosa que considero mais representativos de toda uma narrativa mole, palavrosa, própria para adormecer boi, e junto-lhes brevíssimas considerações críticas.

1. “… o sistema educativo português …, praticamente erradicou o analfabetismo …” (Pág. 66).

Infelizmente, o analfabetismo não está erradicado. São analfabetos 3.1% dos portugueses (INE e Pordata, 6/4/23).

2. “… As políticas dos governos do Partido Socialista introduziram sempre marcos de referência … O alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos … a qualificação da população adulta …” (Pág. 66).

Eu sei que o prolongamento da escolaridade obrigatória até aos 12 anos ganhou estatuto de vaca sagrada, que a maioria assume como intocável. Mas numa Europa onde são vários os países que conseguem desempenhos superiores aos nossos com apenas nove anos de escolaridade obrigatória e quando o INE nos acaba de dizer que a percentagem de portugueses entre os 18 e os 24 anos que deixou de estudar sem concluir o 12º ano (abandono escolar precoce) aumentou, fixando-se agora nos 8%, seria descabido voltar a discutir se é possível ensinar, seja o que for, a quem não quer aprender?

Fiquei agora a saber que o actual PS se orgulha do maior logro que o PS de Sócrates promoveu: as “Novas Oportunidades”, de hedionda memória. Ainda não foi desta que o PS aceitou, para que possamos voltar a acreditar nele, demarcar-se do PS de outrora.

3. “ … Rever e simplificar as regras do concurso de colocação do pessoal docente … “ (Pág. 67).

Eis um exemplo do habitual modo de apresentar intenções por compromissos. De um programa sério não se espera que as propostas assumam logo a forma de diplomas de execução. Mas exige-se que seja dito o mínimo concreto, com referências circunstanciais precisas (como e quando, pelo menos), para mostrar que quem propõe saberá como executar.

4. “… A Escola é uma comunidade que prepara cidadãos que podem escolher além do seu contexto … “ (Pág. 67).

Que pobreza de construção frásica! O que é que isto quer dizer? Podem traduzir?

5. “ … As políticas públicas na Educação implicam uma permanente capacidade de diagnosticar, avaliar, corrigir e avançar, sem desprezar o património herdado, mas sobretudo sem discursos vazios em torno de conceções passadistas e elitistas, mas sim através de medidas que tenham em conta os desafios nacionais e globais que os sistemas educativos hoje enfrentam … “ (Pág. 67).

Tudo o que o PS, nos últimos oito anos de governação, não fez. Pelos vistos, teremos mais do mesmo.

6. “… Revisitar o modelo de gestão das escolas, no sentido de aprofundar as dinâmicas participativas e colaborativas, incluindo o reforço da participação dos alunos na vida da escola, sem prejuízo do processo de descentralização … “ (Pág. 67).

Revisitar significa visitar novamente. Teremos na “visita” inauguração do busto de Maria de Lurdes Rodrigues, mãe do monstro que vem corroendo a escola pública e que o PS não tem coragem de enterrar?

7. “… Estudar as práticas de formação das turmas, fomentando a necessária heterogeneidade do ponto de vista da integração dos alunos de diferentes estratos socioeconómicos …” (Págs. 67 e 68).

Não se cansem com o estudo. Essa tal heterogeneidade é irrecuperável. Oito anos de governos PS criaram duas escolas, definitivamente homogéneas: a pública, pobre, para os pobres; a privada, rica, para os ricos.

In “Público” de 14.2.24