Início Educação A História não se apaga, importa! A Liberdade de expressão importa!

A História não se apaga, importa! A Liberdade de expressão importa!

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Hoje cumprem-se 8 dias sobre o bárbaro assassinato de Samuel Paty, professor de História que ensinava a importância da Liberdade de Expressão. Para assinalar isto e para chamar à atenção para a importância da História um grupo de professores de História.

 

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“Passa uma semana sobre o assassinato de um professor de História francês (Samuel Paty), por ter mostrado aos seus alunos caricaturas de Maomé. Como comprador antigo de banda desenhada satírica francesa (sim, do Charlie Hebdo muito antes da fama pelas piores razões, da L’Echo des Savannes, da Fluide Glacial, porque cá é o que ainda se acha), consumidor assumido de cartoons que alguns consideram blasfemos e professor de História que recorre muitas vezes a este tipo de suporte para ilustrar episódios e fenómenos da História mais recente (e não só), sinto que a violência se exerceu sobre um parte de mim, mesmo se de forma alguma me sinto no perigo que ameaça outros colegas, em outras paragens.

Há um par de dias, a Anabela Magalhães chamou-me a atenção para a importância de assinalarmos esta data com algum tipo de iniciativa, em especial com um grafismo evocativo que nasceu de uma muito breve sessão de brainstorming virtual. Quase tudo se deve a ela, embora quem se lembrar de uma bd produzida nos tempos do Umbigo possa reconhecer os pássaros como metáforas de professores, só que agora estão bem negros, num luto bem literal. Como professores, em particular de História e muito em especial com o gosto de usarmos o humor e fontes de todo o tipo para ilustrarmos as nossas aulas e transmitirmos aos alunos a percepção da diversidade das experiências humanas através do tempo, do espaço e das sociedades, sentimo-nos “irmãos do Samuel” porque, no fundo, apenas temos a sorte de viver num cantinho onde, apesar de nem sempre ser muito bem frequentado, nos sentimos em segurança para ensinar e, ao fazer isso, recorrer a materiais que pensamos não colocar a nossa vida em risco. E esperamos que assim aconteça, apesar de sabermos que a intolerância se espalha velozmente e o desprezo pela História e a sua menorização no currículo corre a par com a nem sempre assumida vontade de truncar a memória das gerações, para ser mais fácil dar-lhes uma versão asséptica ou monocromática – seja de que sentido for – do passado humano.

Pessoalmente, acho quase tão perigosos aqueles que fazem tudo pela calada e com um discurso sonso a favor da “diversidade” que desmentem na prática, quanto os que vozeiam por aí contra moinhos de vento ideológicos que existem apenas residualmente nas convicções mesmo dos que ainda parecem ortodoxos. Os tempos são de marca cinzenta ou de extremismos meio afantochados, sejam os da destra ou da sinistra. Os autocolantes na porta do gabinete da deputada joacine são para mim tão caricatos quanto o retorno às teses pré-científicas de algum conservadorismo cultural, pois dos dois lados apenas promovem uma mal disfarçada intolerância. Aquela que, no fundo, levou ao martírio do professor Samuel.

Por isso, fica aqui o apelo para quem aguentou ler isto, no sentido de escreverem também algo sobre o tema ou, pelo menos, divulgarem a imagem que a Anabela produziu para este dia. Para todos os dias.

A História Importa. A Memória importa. O Humor importa. Muito. Porque a Liberdade Importa.”

Paulo Guinote

Arlindovsky

Anabela Magalhães