Início Educação A guerra dos professores não interessa a ninguém – Andreia Sanches

A guerra dos professores não interessa a ninguém – Andreia Sanches

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O Ministério da Educação avançou esta semana para as negociações com os sindicatos com um anúncio muito importante: vai vincular 10.500 docentes, muitos dos quais vivem seguramente há muitos anos numa insustentável situação de precariedade. São metade dos que trabalham a contrato.

Mas, com milhares em protesto nas ruas, greves diárias nas escolas e muitas famílias à beira de um ataque de nervos, já se percebeu que isso não basta para impedir, como diz Marcelo Rebelo de Sousa, que possa haver greves até ao Carnaval. E isso não interessa a ninguém. Nem aos professores, porque as famílias que se solidarizam com as suas queixas acabarão por deixar de o fazer, nem ao Governo.

Uma cedência já foi feita. O executivo abdicou de uma medida que existe em vários países, mas que nenhum ministro da Educação em Portugal ousara debater: dar às escolas alguma autonomia para escolher uma parte dos professores. Os sindicatos são contra e o ministro João Costa acabou a dizer que “não se pode impor reformas às pessoas”, e que “não se está em processos negociais de boa-fé sem atender às posições quase unanimemente manifestadas”.

Há uma contradição nesta postura: o Governo, que cede numa “reforma” para não desagradar aos professores, recusa discutir uma velha exigência “quase unanimemente manifestada” pelos mesmos. A saber: a recuperação integral do tempo de serviço congelado.

Hoje, é essa a exigência que une todos os sindicatos. A força dos protestos ressuscitou-a. O tema da precariedade tenderá a perder força com as 10.500 entradas no quadro; a proposta de reduzir a dimensão dos quadros de zona pedagógica apresentada esta semana é do mais elementar bom senso e ninguém a contesta; o concurso já não é assunto. É a recuperação integral do tempo de serviço. Que, recorde-se, chegou a ser aprovada por uma coligação negativa em 2019, mas caiu quando António Costa ameaçou demitir-se.

O Presidente da República, que parece incomodado com tudo isto, já veio dizer que não sabe se o Governo pode negociar os sete anos de serviço que falta descongelar. “Implica muito dinheiro”, disse, “acho difícil que haja espaço”, acrescentou, “mas é possível que haja”. E assim, com estas declarações, e os protestos em crescendo nas ruas (o pequeno sindicato Stop, que começou por declarar a guerra, já diz que na próxima manifestação também estarão outros funcionários públicos, como os polícias, que também ganham mal), a margem do Governo para manter o tema fora das negociações é, a cada dia que passa, mais curta.