Porque aquilo que encarregados de educação, alunos e professores têm vivenciado desde que a pandemia os afastou do ensino presencial assemelha-se mais a um inferno laranja do que a um céu azul-celeste. Não quero ser tremendista, mas nunca como agora reconhecemos tanta importância aos educadores dos nossos filhos e ao contributo da escola para garantir o equilíbrio emocional dos estudantes e a harmonia das famílias. Bem hajam.
Mas o quadro que se nos apresenta é assustador: termos crianças arredadas, de março a setembro, das rotinas escolares, da aprendizagem, do convívio com colegas e professores, pode ter um efeito devastador sobretudo junto dos mais frágeis, que não beneficiam do fácil acesso às tecnologias, que estão privados de uma boa retaguarda familiar e cujo modesto poder aquisitivo dos pais não lhes permite estar em casa indefinidamente em teletrabalho a ligar e a desligar o “Teams”. A isto, acresce o facto de, com o desconfinamento e a reabertura económica, tudo ter avançado menos a escola. Em certo sentido, os alunos ficaram esquecidos numa redoma.
O Ministério da Educação confirmou finalmente que, em setembro, todas as aulas serão presenciais (veremos), mas há ainda um mundo de incertezas até ao fim do verão. O enorme intervalo de tempo sem aulas justificaria que se implementassem medidas mitigadoras, como defende, por exemplo, a Unicef. Uma delas poderia passar por um regresso antecipado, de uma ou duas semanas, que ajudasse não apenas a sarar as feridas do agora, mas fundamentalmente que lançasse bases para o próximo ano letivo, não castigando ainda mais aquilo que se antevê vá ser um arranque de loucos. Sem aulas, sem professores e sem ajuda, houve muitos alunos que ficaram para trás. Nisso, a escola não cumpriu a sua vocação primordial: em vez de criar pontes educativas, ergueu muros de silêncio.
Fonte: JN