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A Educação pública em tempo de pandemia e teletrabalho – Filipa Pinto

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A Educação pública tem, entre outras, uma função social particularmente importante e desde sempre reconhecida: a de permitir a mobilidade social e a formação integral de todos os jovens em circunstâncias o mais possível equivalentes, com os mesmos recursos, as mesmas exigências e as mesmas oportunidades.

Quando um imprevisto como a pandemia da covid-19 surge de forma avassaladora e indiscriminada, ameaçando a saúde de toda a população, envolvendo o encerramento de escolas por tempo indeterminado, é natural e previsível que o Ministério da Educação e os diretores das escolas dêem indicações para que os professores lecionem à distância. Esta decisão legítima de procurar substituir as aulas presenciais por aulas online encontra vários problemas de exequibilidade e logística que em muito poderão contribuir para aprofundar desigualdades sociais, no que diz respeito aos alunos. Já relativamente aos professores, nem todos estão equipados em suas casas com computador, câmara e microfone que permita a instalação e utilização de plataformas digitais. Muitos professores têm computadores obsoletos e outros realizam as tarefas virtuais nas escolas e não em casa, por esse motivo.

Por outro lado, a escola pública recebe crianças e adolescentes de todas as classes sociais. Muitos têm escalão A, ou seja, o valor máximo de subsídio atribuído pelo Estado, o que significa que os rendimentos auferidos pelo agregado familiar são muito reduzidos, ou porque os encarregados de educação têm trabalhos precários, ou são desempregados ou recebem o salário mínimo. Há muitas famílias com dificuldades económicas que não conseguem que o seu educando disponha de um computador e são várias as que não têm internet ilimitada em casa. A maioria dos alunos tem telemóvel, mas nem todos os telemóveis são smartphones que permitam realizar videoconferências durante horas, consultar powerpoints, ficheiros excel, entre outras funcionalidades. A acrescentar a isto, muitos encarregados de educação não têm as condições em casa nem a formação necessária para acompanhar os seus educandos nas tarefas escolares.

Assim, não é avisado determinar que, hipoteticamente, o terceiro período decorra com base em aulas virtuais se não acautelarmos várias condicionantes. Para ser possível um terceiro período sem aulas presenciais teriam de ser ponderados os seguintes fatores: previamente, deveria ser feito um levantamento dos alunos sem condições técnicas e humanas para acompanhar essas aulas, saber das dificuldades logísticas e de formação dos próprios professores e, depois, equacionar soluções, como, por exemplo, fornecer acesso gratuito à internet, garantir condições especiais para aquisição de equipamentos para que, a médio prazo, fosse possível equipar estudantes e professores adequadamente. De igual modo, a curto prazo (terceiro período), seria aconselhável adaptar o modelo de avaliação com base em testes e que este passasse a ser baseado em trabalhos, alterar as datas dos exames nacionais ou até cancelar a sua realização excecionalmente este ano.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

 

Fonte: Público