Especificamente sobre o cuidado com a ambiência das interações, Hoffmann (2004a, p. 56) elenca cinco iniciativas da responsabilidade do mediador docente:
- Primeira iniciativa: “oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar suas idéias”. Essa iniciativa destaca a importância de se valorizar a participação do aluno em situações variadas, em que este tenha condições de expressar-se, lançando mão de diferentes linguagens (textual, oral, gráfica, sensorial, entre outras) de modo espontâneo. Com isso, tem-se a oportunidade de estimular, observar e registrar as formas de comunicação com as quais obteve maior êxito, bem como detectar aquelas em que apresentou maior dificuldade. Os registros dessa trajetória não têm por finalidade apenas diagnosticar a situação e sim, a partir deles, reestruturar o planejamento, direcionando o trabalho pedagógico para a promoção de tarefas que possam incentivar o aluno a desenvolver estratégias pessoais de superação da dificuldade apresentada.
- Segunda iniciativa: “oportunizar discussão entre os alunos a partir de situações desencadeadoras”. Por “situações desencadeadoras” entendam-se as provocações provenientes do professor a partir de sua observação atenta e acompanhamento constante sobre os grupos de trabalho da turma. Nessa iniciativa, a autora defende a necessidade de realização de trabalhos em grupo, pois, segundo ela, os alunos se sentem mais à vontade para discutir e argumentar entre seus pares do que com a professora. Ainda que esta se isente de uma prática autoritária, é comum que os alunos se constranjam com sua presença, mantendo-se calados por vezes. As situações desencadeadoras emergem dessas discussões internas dos grupos, nas quais o professor, ao constatar a oportunidade de intervir com novos questionamentos, acirra o debate. Dessa forma, é possível observar e registrar: a) a maneira como os alunos defendem seus pontos de vista, como constroem e apresentam a argumentação para essa defesa; b) como respeitam a opinião alheia e como acolhem ou não uma opinião; c) se estão preparados para ouvir, para fazer e receber críticas; d) como a sala de aula pode constituir-se em arena de discussão, troca, compartilhamento, colaboração, estruturação do pensamento; e e) como esse processo resulta em aprendizagem e formação.
- Terceira iniciativa: “realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente, procurando entender razões para as respostas apresentadas pelos estudantes”. A avaliação não deveria ocorrer por eventos estanques, com datas determinadas, ao final de um período de tempo ou unidade de trabalho. A autora chama a atenção para a importância de se estabelecerem pequenas e sucessivas tarefas, a fim de se investigar o modo como o aluno construiu e demonstrou o conhecimento. Nessa iniciativa também há que se destacar que a autora se refere às ações individuais, primando pelo acompanhamento e análise dos processos mentais elaborados pelo aluno. Ainda que seja favorecida pelo estabelecimento de trocas, a aprendizagem se constrói individualmente e por decorrência precisa dessa atenção individual, de modo a contribuir para novas aprendizagens.
- Quarta iniciativa: “ao invés de certo/errado e da atribuição de pontos, fazer comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a localizar as dificuldades, oferecendo-lhes oportunidades de descobrirem melhores soluções”. Entender o processo de avaliação a serviço da aprendizagem, como dito anteriormente, compreende ir muito além de estabelecer correções que se limitam à indicação do estar certo ou errado, ou ainda, da atribuição de notas. Um professor que acompanha o desenvolvimento do aluno, atento e competente para proceder a comentários sobre as tarefas realizadas, tem condições de oferecer ajuda ao aluno na identificação das suas dificuldades, bem como de problematizar e incentivar a elaboração de estratégias pessoais e/ou coletivas permitindo-lhe encontrar caminhos que levem a pensar e a vencer as dificuldades.
- Quinta iniciativa: “transformar os registros de avaliação em anotações significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento”. Avaliar vai além de registrar o desenvolvimento do aprendiz. Ampliando o que foi destacado na primeira iniciativa, é necessário transformar os registros em anotações significativas que permitam o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento. Hoffmann sugere, inclusive, que tal prática substitua os registros numéricos ou a atribuição de conceitos. Com isso, a avaliação assume um caráter formativo, uma vez que sua intenção é contribuir para a detecção das conquistas e dificuldades do percurso, para que, a partir delas, professor e aluno tenham oportunidade de pensar sobre novas metas de aprendizagem e sobre o que se precisa investir para efetivá-las (HOFFMANN, 2005).
FUNDAMENTOS DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: DA SALA DE AULA PRESENCIAL À PLATAFORMA DE ELEARNING
Marco Silva
In
Amante, L. & Oliveira, I. (Coord.) (2016). Avaliação das Aprendizagens: Perspetivas, contextos e práticas. Lisboa: Universidade Aberta.
Fonte: Terrear