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Tudo O Que Precisa Saber Sobre O Plano De Vacinação

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É oficial. A vacina contra a Covid-19 tem luz verde para ser administrada na Europa e, por cá, dentro de seis dias, os primeiros portugueses serão vacinados em centros de saúde de todo o país. Ambas as garantias foram dadas esta segunda-feira, quase em simultâneo, pela ministra da Saúde e pela diretora-geral da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

Em Amesterdão, sede da EMA, Emer Cooke falou de um “passo significativo” no combate à pandemia, já que a vacina da Pfizer/BioNTech foi aprovada em menos de um ano. Em Lisboa, Marta Temido afirmou que a 27 de dezembro o país estará preparado para aplicar o plano traçado pela task force e começar a vacinação massiva.

Antes de tal ser possível, ainda falta a aprovação final por parte da Comissão Europeia que deverá acontecer já na próxima quarta-feira, 23 de dezembro. A Pfizer assumiu o compromisso de distribuir o medicamento pelos Estados-membros dois dias depois o que, a confirmar-se, coincide com o dia de Natal.

Agora que as vacinas vão mesmo chegar, as dúvidas sobre o plano de vacinação continuam a acumular-se. O Observador explica-lhe em 24 perguntas e respostas tudo o que precisa de saber sobre como tudo vai acontecer em Portugal.

Tenho 45 anos e trabalho numa farmácia. Posso ser já vacinado?

Não. O plano de vacinação, apresentado no início do mês, já definiu quem serão os grupos prioritários à imunização e isso não foi alterado. Quando se soube que as vacinas chegariam a Portugal ainda este ano (e não apenas em janeiro, como inicialmente previsto), a ministra da Saúde adiantou que as primeiras 9.750 doses seriam para profissionais de saúde, aqueles que estão na primeira linha no combate à Covid-19.

Sou médica numa unidade de saúde em Coimbra. Vou ser vacinada a seguir ao Natal?

Se pertencer ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e estiver a tratar de doentes Covid-19 é quase certo que sim. Segundo anunciou a ministra da Saúde, esta segunda-feira, serão os profissionais de saúde de cinco centros hospitalares (há 21 em Portugal) — São João, Porto, Coimbra, Lisboa Norte e Lisboa Central — os primeiros a receber a vacina já no dia 27.

Então, só depois de todos os médicos serem vacinados é que eu posso ser?

Não. As prioridades não se esgotam nos médicos e nos enfermeiros e, mesmo entre eles, há subgrupos com prioridades diferentes. Em primeiro lugar, serão vacinados os profissionais de saúde que tenham maior risco de contrair a doença — quem trabalha em unidades de cuidados intensivos, serviços de urgência, áreas dedicadas a doentes respiratórios (ADR) e outras unidades onde o risco de contacto com doentes infetados e de libertação de aerossóis é maior.

As pessoas que vão ser vacinadas em dezembro já estão escolhidas?

Não. Na quinta-feira passada, Marta Temido disse que o “processo de seleção” das pessoas que serão vacinadas com o primeiro lote de vacinas ainda está a ser finalizado, ressalvando que o foco será nos profissionais de saúde. Sobre este assunto, esta segunda-feira não adiantou mais detalhes. Depois dos profissionais de saúde, seguem-se os demais grupos prioritários identificados no plano original de vacinação.

A minha avó está num lar de idosos. Faz parte do grupo prioritário?

Faz. Os grupos prioritários contemplam não só os residentes, mas também os profissionais de lares de idosos (e de instituições semelhantes), pessoas internadas em unidades de cuidados continuados e respetivos cuidadores.

A minha outra avó tem 87 anos, mas vive em casa dos meus pais. Também vai ser vacinada?

Para já, não. A idade, por si só, não coloca ninguém no grupo de prioritários. Não vivendo num lar, uma pessoa com mais de 50 anos só é prioritária se tiver uma das seguintes patologias:

  1. Insuficiência cardíaca
  2. Doença coronária
  3. Insuficiência renal
  4. Doença respiratória crónica sob suporte ventilatório ou oxigenoterapia de longa duração

Quem tenha mais de 65 anos, tenha ou não patologias associadas, fará parte do grupo de prioritários da segunda fase de vacinação que só terá início quando a primeira estiver terminada. Isso deverá acontecer entre finais de março ou em abril, segundo Francisco Ramos, coordenador da task force para o Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19.

Tenho 42 anos e sofro de insuficiência cardíaca. Posso esperar ser vacinado já em dezembro?

Não. Quem sofre de insuficiência cardíaca está no grupo prioritário, mas apenas se tiver mais do que 50 anos. Da mesma forma, se sofrer de insuficiência renal ou de doença respiratória crónica só será considerado prioritário se tiver mais do que 50 anos de idade. Estes doentes farão parte da primeira fase de vacinação, mas a que arranca em janeiro. Neste últimos dias de dezembro só serão mesmo vacinados alguns profissionais de saúde que estão na linha da frente.

Doentes autoimunes, grávidas e crianças. Serão dos primeiros a ser vacinados?

Tal como noutros países, crianças e grávidas estão fora do plano de vacinação uma vez que não há, por enquanto, evidência científica que garanta que o medicamento é eficaz e seguro neste grupo de pessoas. O mesmo é válido para alguns doentes de risco, como quem sofre de doenças autoimunes e algumas oncológicas. Na dúvida, o mais seguro é não ser vacinado. Os doentes oncológicos em tratamentos de quimioterapia  aparecem como prioritários para a segunda fase, mas até essa questão pode ser reavaliada à medida que os efeitos das vacinas forem sendo conhecidos.

O meu marido trabalha na PSP. É prioritário?

Todos os profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados, assim como os profissionais de serviços essenciais e críticos, das forças de segurança e das Forças Armadas fazem parte do grupo prioritário da primeira fase de vacinação. No entanto, o plano não é claro em relação a estes últimos, não detalhando se todos os elementos das forças de segurança são prioritários ou apenas os que estão, de alguma forma, envolvidos na operação de vacinação ou contactam diretamente com doentes que possam estar infetados.

O que são profissionais de serviços críticos? Um bombeiro ou um caixa de supermercado estão nessa categoria?

Ainda não estão definidos quais são estes serviços críticos, segundo disse Francisco Ramos na quinta-feira passada durante a apresentação dos novos detalhes do plano de vacinação.

Como é que os serviços de saúde vão saber quem pode ou não ser vacinado?

Para já, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) irão disponibilizar aos Agrupamentos dos Centros de Saúde (ACES) uma lista de utentes identificados para a vacinação contra a Covid-19. Essa lista é criada tendo por base critérios definidos pela Direção Geral de Saúde.

Vou ser vacinado no meu centro de saúde ou noutro sítio?

Depende. Na primeira fase está previsto que a vacinação aconteça apenas nos centros de saúde. No entanto, os locais poderão vir a ser alterados mais à frente, não estando excluída a hipótese de serem criadas unidades móveis. Já houve, inclusive, contactos com a Associação Nacional de Municípios Portugueses e com a Associação Nacional de Freguesias para, no futuro, expandir a rede de vacinação (em pavilhões, ginásios, etc.)

Outro dado importante é que nem todos os centros de saúde irão administrar as vacinas da Pfizer (as primeiras a chegarem). Se viver numa zona mais isolada, ou com menos habitantes, poderá ter de ser vacinado numa localidade vizinha, com um centro de saúde maior, mas sempre dentro da sua área geográfica.

Tenho de ir ao centro de saúde ou alguém me vai avisar de que posso ser vacinado?

A responsabilidade está do lado dos centros de saúde: serão os seus profissionais a entrar em contacto com os utentes para dar início ao processo de vacinação.

Vão telefonar-me?

Não. Será enviado um SMS aos utentes prioritários para saber se estão (ou não) interessados em ser vacinados contra a Covid-19.

E têm o meu número de telefone?

O Governo já enviou cerca de 20 mil números de telemóveis para as Administrações Regionais de Saúde (ARS) que têm como missão distribui-los pelas unidades de Cuidados de Saúde Primários.

 

OK. Recebo o SMS e o que faço depois?

Tem de responder à mensagem, com “sim” ou “não”.

  • Se responder “não” o processo fica ali.
  • Se responder “sim” o agendamento é efetivado e ser-lhe-á enviado um novo SMS com a data, hora e local da vacinação.
  • Se responder novamente “sim” ao agendamento, fica confirmado.

E se não responder? Ou não tiver telemóvel? Ou não saber como o fazer?

Os centros de saúde tentam entrar em contacto com os utentes que não respondem por outras vias.

A vacina é obrigatória? Ou posso recusar-me a tomá-la?

A toma da vacina é voluntária e ninguém poderá ser obrigado a tomá-la contra a sua vontade.

E se não estiver inscrito num centro de saúde ou se não tiver médico de família? O que devo fazer?

Quem não tenha médico de família pode pedir uma declaração médica a um médico privado que ateste a condição clínica exigida para a vacinação — caso se encaixe no perfil de grupo prioritário. Ou ir ao centro de saúde tratar do processo. No entanto, terão de ser os interessados a contactar o centro de saúde da sua área de residência para marcar a vacinação.

Mas já estive infetado com o vírus da Covid-19. Vou ser vacinado à mesma?

Segundo o Observador apurou junto de membros da task force, as pessoas que já estiveram infetadas com o vírus SARS-CoV-2 podem tomar a vacina à mesma, até porque o Governo não irá fazer essa monitorização.

Ouvi dizer que depois de vacinado, vou ser seguido. É verdade?

Não. Tal como acontece com as outras vacinas, as pessoas não vão ser seguidas no pós-vacinação. O que existe é um plano para monitorizar a efetividade e a segurança da vacina da Pfizer, mas ainda não foram divulgados detalhes precisos de como será realizado esse estudo.

 

Qual é, afinal, o calendário para a vacinação?

Em termos de calendário, o Governo prevê começar a administrar as várias doses da seguinte forma:

  • Profissionais de saúde: administração das primeiras doses começam em janeiro e termina em inícios de março. Segundas doses começam em finais de janeiro e terminam nas últimas semanas de março;
  • Lares e Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados: primeiras doses em janeiro e terminam em inícios de fevereiro. Segunda dose em finais de janeiro e termina ainda antes do final de fevereiro;
  • Pessoas com comorbilidades: primeiras doses começam ser administradas nas primeiras semanas de fevereiro e terminam em finais de março. Segundas doses começam no início de março, mas não tem uma data concreta para terminar;
  • Outros profissionais: primeiras doses começam a ser administradas em meados de fevereiro e terminam em finais de março. Segundas doses começam nas primeiras semanas de março e não tem previsão para terminar.

E a segunda e terceira fase? Quando é que todos estaremos vacinados?

Ainda não há datas, o que há é grupos prioritários. Na segunda fase estão as pessoas com 65 anos ou mais com ou sem patologias associadas; pessoas entre os 50 e os 64 anos com diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica, insuficiência hepática, obesidade, hipertensão arterial e outras patologias que poderão ser definidas posteriormente.

Na terceira fase de vacinação, será vacinada o resto da população. Se for necessário, será definido um novo grupo de prioritários.

E a imunidade de grupo? Algum dia haverá?

No Parlamento, dias antes da apresentação dos novos detalhes do plano de vacinação, Francisco Ramos disse que essa é “uma pergunta difícil” e confessou não ter “uma resposta precisa”, lembrando que todos os estudos apontam para que a imunidade de grupo seja atingida quando cerca de 60% da população está imunizada. “Diria que pela vacinação, poderíamos chegar à imunidade de grupo no final da primavera, início de verão.” Mas também não há certezas de que as vacinas cheguem todas com a regularidade prevista.

Fonte: Observador