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Rankings do nada – Ricardo Costa

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No próximo sábado, os leitores vão ler o novo ranking das escolas para saberem quem prepara melhor o acesso ao ensino superior. Lá teremos as discussões de sempre: os privados que ocupam o top, as escolas públicas de exceção, os casos que desafiam a lógica, os bons exemplos.

Os rankings foram uma importante luta pela transparência, até desembocarem na evidência de que nada revelavam aquém da superfície. Nos últimos anos introduziram-se fatores mais importantes: número de alunos com apoio social, escolaridade dos pais, evolução no percurso letivo, etc. Os dados ficaram mais interessantes.

Em 2020 tudo isto soará a falso. Qual é o valor de um ranking quando dois milhões de alunos estão em casa? Qual é o sentido de analisar 2019 quando a resposta à pandemia passou por paralisar a educação? Que sentido faz olhar para alegados sucessos quando vivemos um insucesso estrutural?

França vai abrir as escolas na próxima segunda-feira. A Irlanda do Norte já reduziu as distâncias entre alunos. A Suíça assumiu que o risco de transmissão entre crianças é baixo. A Dinamarca assinalou o desconfinamento com uma imaginativa reabertura de escolas. A Noruega fez o mesmo. A lista de exemplos é extensa, mas exclui sempre Portugal.

Temos milhares de alunos com aulas à distância, a telescola, alunos que vão a exame no 11º e 12º anos, e temos mais o quê? Creches, pré-escolar, alguns ATL? Sim, mas o resto é um deserto, onde o fecho das escolas passou de temporário a irrevogável.

Poderíamos pensar, de forma benevolente, que esta pausa estaria a servir para preparar um regresso em força, com um ensino cheio de aulas de recuperação, programas especiais para os alunos mais carenciados, redundâncias para professores em grupos de risco, reformas antecipadas de professores e funcionários mais vulneráveis, alterações curriculares adaptadas a contingências tecnológicas, planos para um segundo fecho, etc. Mas, até agora, parece que a pausa é apenas isso, uma pausa.

Reabrir escolas é uma medida de consequências enormes. Além do impacto direto em alunos, professores e auxiliares, tem influência nos transportes, nas potenciais cadeias de transmissão, nos pais que deixam de estar em casa, etc. É uma medida poderosa e com ondas de choque. Mas o seu prolongamento é perigoso e irresponsável. Até porque em setembro iremos desembocar no mesmo problema.

A educação é o grande nivelador de sociedades desiguais. Quando as escolas fecham, a desigualdade ganha asas e o que não está estruturado desmorona-se. Quando fecham por muito tempo, a progressão do desastre é geométrica. Como tudo isto acontece no início de uma profunda crise económica e social, temos o caldo perfeito para um desastre que levará anos e anos a corrigir.