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Quanto maior a fome, pior na escola. Em Portugal, mais de 7% das crianças sente fome todos os dias

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Uma refeição choruda na lancheira ou nada na mão. Os cenários podem variar do zero aos 100 entre as crianças que frequentam uma mesma escola. É assim na EB1/JI Sacadura Cabral, na Brandoa, por exemplo. Coberta por uma bata onde o verde e o branco se confundem em xadrez, de pé estendido e cansado sobre um cilindro de metal cimentado no chão, de cigarro na boca, do lado de fora do gradeamento da escola, a funcionária Eduarda pensava no que seria feito dos miúdos, depois de as escolas fecharem oficialmente – na sexta-feira anterior a este acontecimento. “Vive-se com muitas dificuldades por aqui”, porque “há muitas famílias que não têm possibilidades [económicas] para enviar lanche aos filhos todos os dias”, contava. Certezas há pelo menos duas: não é só na Brandoa que mora a fome; e onde ela existe deixa graves mazelas no percurso escolar.

Em Portugal, 7,33% das crianças que frequentam o 4.º ano de escolaridade (por isso, com uma média de 10 anos de idade) admite sentir fome “todos os dias” quando chega à escola. O dado é do Estudo Internacional de Leitura e Alfabetização (PIRLS), da Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional (IEA), e foi divulgado esta sexta-feira.

“Com que frequência sentes-te assim quando chegas à escola? Sinto fome…”. Foi a questão de partida para o estudo. Além dos 7,33% que completaram a frase respondendo “todos os dias”, somam-se outros 7,01% que disseram senti-lo “quase todos os dias”. Um número, ainda assim, bastante inferior à média internacional – 26% das crianças inquiridas neste ano de escolaridade diz chegar “todos os dias” à escola com fome.

A análise foi baseada nas respostas de alunos de 47 sistemas de ensino diferentes, espalhados pelo mundo. Além de Portugal, participaram estudantes da República do Azerbaijão, Austrália, Áustria, Barém, Bulgária, Canadá, Chile, Taipé Chinesa, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Geórgia, Alemanha, Hong Kong, Hungria, Irão, República Islâmica, Irlanda, Israel, Itália, Cazaquistão, Letónia, Lituânia, Macau, Malta, Marrocos, Omã, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polónia, Catar, Rússia, Arábia Saudita, Singapura, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Suécia, Trindade e Tobago, Emirados Árabes Unidos, EUA, Inglaterra, Irlanda do Norte, Bélgica (região flamenga) e África do Sul.

Carência alimentar é causa direta da baixa alfabetização

A principal conclusão do documento aponta uma relação direta entre a carência de alimento sobre estas crianças e um nível mais baixo de alfabetização. “Parece haver um vínculo entre as crianças que relatam sentir fome e um desempenho menor na avaliação da alfabetização em leitura”, assegura o diretor executivo da associação IEA, Dirk Hastedt.

O que ocorre quer a nível nacional, quer a nível internacional. Porque “embora as percentagens de estudantes que afirmavam sentir fome diferissem entre sistemas educativos participantes no estudo, havia uma relação com o desempenho escolar em todos eles”.

Enquanto aqueles que admitiram sentir fome todos os dias ou na maioria dos dias obtiveram uma média de 511,16 pontos na avaliação de leitura que lhes foi feita, os alunos que referiram nunca ter chegado à escola com fome obtiveram uma avaliação média muito superior, de 534,50. A nível internacional, as médias foram de 494,58 e 533,92, respetivamente.

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Fonte:DN