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Porque é que as escolas continuam fechadas? Eu explico

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As escolas continuam todas fechadas para manter os pais dentro de casa. Ponto final. Não tem nada a ver com a saúde das crianças ou das famílias. Não tem nada a ver com a possibilidade de os miúdos do pré-escolar e da primária se infectarem nas escolas. Em primeiro lugar, porque a covid praticamente não os afecta; em segundo lugar, porque, mesmo infectados, tudo indica serem fraquíssimos transmissores. As crianças continuam em casa com os actuais níveis de transmissão, e pelos vistos assim continuarão até depois da Páscoa, porque são precisamente os miúdos mais pequenos que mantêm os pais dentro de casa. Enquanto o Manelinho estiver obrigado a ter aulas no Teams, o pai Manuel e a mãe Manuela estão obrigados a ficar agarrados ao Manelinho e a queda do Rt está assegurada.

Dir-me-ão: mas, se assim é, então tem uma certa lógica as escolas permanecerem fechadas. Sim, tem uma certa lógica, sobretudo num país que já se conformou à mediocridade no combate à pandemia. Aí, há que agradecer a António Costa o seu habitual pragmatismo, e a Marcelo Rebelo de Sousa a clareza que demonstrou na intervenção de quinta-feira. O que eles nos vieram dizer foi isto: “Portugueses, embora estando no século XXI, a forma mais sofisticada que este país tem para combater uma pandemia é com confinamentos à moda do século XIV. Lamentamos muito, mas é o que se arranja.”

E, de facto, é o que se arranja. Porque fazer as coisas de outra maneira, com testagem permanente nas escolas, vacinação da comunidade do primeiro ciclo e do pré-escolar e rígidos protocolos sanitários exige um nível de competência, de empenho e de organização que o Estado português não está em condições de oferecer.

No início da semana, com a queda brutal do índice de transmissão, ainda se pensou que o desconfinamento parcial pudesse ser uma realidade em Março. Foi isso que reclamou uma carta aberta bastante ponderada, assinada por centenas de pessoas da esquerda à direita, de médicos a economistas. Mas o Presidente da República cortou tal ideia pela raiz na sua intervenção. E, visto que o primeiro-ministro continuava em modo tabu sobre a matéria, veio ele próprio assumir que era para ficar tudo fechado até à Páscoa, evitando assim a proliferação de planos falsos sobre o desconfinamento e declarações como a da ministra Mariana Vieira da Silva, que levantara a possibilidade de iniciar em breve o desconfinamento das escolas, começando pelas crianças mais pequenas, no pré-escolar e até ao segundo ano de escolaridade – que era aquilo que faria sentido.

O problema é que existe uma divergência insanável entre aquilo que faz sentido no equilíbrio entre saúde pandémica, saúde mental e saúde educativa – que obrigaria a abrir as escolas de forma parcial já em Março – e aquilo que faz sentido na gestão política desta crise e na sensibilidade dos eleitores quanto à competência do Governo – que tornaria essa abertura muito arriscada. Para garantir o controlo da pandemia não há como manter toda a gente enfiada em casa, e para manter toda a gente enfiada em casa não há como fechar lá dentro quem não tem para onde ir.

Isso tem um impacto brutal sobre as crianças? Sim, tem. Estamos a utilizá-las como um instrumento para confinar adultos? Sim, estamos. Mas, entretanto, os telejornais continuam a abrir todos os dias com curvas a descer, e isso é tão lindo de se ver que o Manuel, a Manuela e o Manelinho podem muito bem aguentar em casa mais um mês ou dois.

Público

1 COMENTÁRIO

  1. Por amor da santa! Abriram-se as escolas, viu-se no que isto deu. Fecharam-se de novo as escolas, viu-se no que isto deu. Não é preciso ser nenhum Einstein para prever no que dará abrirem-se prematuramente as escolas. Não vale a pena fazer processos de intenção a ninguém. Sim, o confinamento é uma estratégia do século XIV. Mas funciona, sobretudo se for conjugada com estratégias do século XXI. É o que Portugal está a fazer, tal como a generalidade dos países europeus. Uns darão mais peso ao confinamento, outros à testagem, outros à vacinação, mas os ingredientes são os mesmos ainda que em proporções variáveis. Neste ponto Portugal não é caso único. Onde Portugal é caso único é em fazer tabu da vacinação dos professores. Mais uma vez com medo de lhes dar demasiados “privilégios,” como se estes fossem a causa de todos os males do País. Mas não podemos ter tabus quando avançarmos para a necessária reabertura das escolas: ou o programa de abertura é acompanhado em paralelo por um robusto programa de testagem, despiste e vacinação, ou será outra vez o desastre.

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