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Por que razão há escolas a mandar testar contactos apenas ao fim de 10 dias?

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O que tem de fazer uma escola se surgir um caso suspeito?

Tem de ativar o plano de contingência, encaminhar a pessoa suspeita até à sala de isolamento e contactar o encarregado de educação (se for um aluno), a linha SNS24 e a autoridade de saúde local.

Que equipas são chamadas a intervir nas escolas se houver um caso suspeito de covid-19?

Em cada unidade de saúde pública local existem equipas que já antes eram responsáveis pela promoção da saúde e comportamentos saudáveis em ambiente escolar e pela gestão de casos e contactos de doenças infeccio­sas de notificação obrigatória. E são essas equipas, constituídas por diferentes profissionais — médicos internos, enfermeiros, técnicos de saúde ambiental, etc. —, que são chamadas a intervir.

Que avaliação fazem?

Avaliam o risco e determinam medidas de isolamento de contactos na escola (por exemplo, alunos que estavam sentados próximo na sala de aula ou no refeitório), de uma turma ou de uma área mais vasta. Se o caso for confirmado, a autoridade de saúde local deve avançar com o inquérito epidemiológico, o rastreio de contactos e a avaliação ambiental.

Se houver um caso confirmado numa escola, quem mais é testado?

De acordo com o referencial da Direção-Geral da Saúde (DGS) para o controlo da transmissão de covid-19 em contexto escolar, todos os contactos identificados pelas autoridades de saúde como sendo de “alto risco”. Mas poderiam existir orientações “mais específicas do referencial sobre o que constitui um contacto de alto risco em diferentes contextos”, defende Vasco Ricoca Peixoto, médico na equipa da Unidade de Saúde Pública de Lisboa Norte.

Então porque estão a surgir práticas diferentes de testagem?

A norma da DGS diz respeito a escolas do 1º ciclo ao secundário e aí todos os contactos de alto risco devem ser testados. No caso das creches e jardins de infância, a testagem não é obrigatória e pode optar-se apenas pelo isolamento, tal como já aconteceu em vários estabelecimentos.

Que fatores são ponderados para determinar se uma turma ou várias ficam em isolamento em casa?

Distanciamento entre pessoas, disposição das salas, organização das pessoas por grupos (‘bolhas’), corredores e circuitos de circulação, ventilação dos espaços, período entre o início de sintomas e a identificação do caso suspeito, entre outros fatores.

Por que razão há escolas a mandar testar contactos apenas ao fim de 10 dias?

Vários estudos indicam que até quase metade dos casos pode desenvolver sintomas e ter teste positivo apenas após o 7º dia, lembra Vasco Ricoca Peixoto. É também o que recomenda a DGS na Norma de Rastreio de Contactos, que indica a testagem preferencialmente a partir do 7º/8º dia do contacto. No entanto, há situações em que pode ser ponderado fazer o teste logo após a identificação de contactos de alto risco do caso positivo. Por exemplo, quando o caso que infetou o aluno ou o profissional fora da escola não seja conhecido ou também em que haja suspeita de transmissão potencialmente não detetada entre alunos.

Quem pode decidir se a escola encerra?

No caso dos estabelecimentos públicos, o fecho só pode ser determinado pelas autoridades de saúde a nível regional e nacional (DGS). Os privados têm autonomia para decidir.

Em que condições é tomada essa medida extrema?

Além de todos os critérios referidos atrás, é preciso ter em conta a realidade epidemiológica e social dos bairros onde habitam as crianças da escola em avaliação, bem como os seus contactos fora do estabelecimento de ensino.

O número de casos já conhecidos é surpreendente ou está dentro do expectável, atendendo aos níveis atuais de disseminação do vírus na comunidade?

Vasco Ricoca Peixoto considera que atualmente estão dentro do expectável e lembra que são casos de alunos/professores/funcionários todos infetados fora da escola (pelo menos na área de Lisboa Norte). As medidas de contenção tomadas visam garantir que a escola não se transforme precisamente num local de transmissão. No entanto, avisa o médico, “há muitas oportunidades de transmissão fora da escola e estas devem também ser minimizadas por todos”.

Isabel Leiria

Expresso