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População Escolar No Tubo de Ensaio – Paulo Prudêncio

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São tempos muito difíceis. Sabemos bem que a pandemia provoca situações sanitárias e económicas decisivas. Já muito se escreveu sobre o assunto, mas o salvamento de vidas manter-se-á como imperativo nas sociedades civilizadas. Para além disso, e como a investigação científica continua naturalmente numa maré de incertezas e contradições, e como as vacinas e medicamentos percorrem os inevitáveis caminhos temporais, a impaciência sobe de tom.

O próximo regresso às aulas far-se-á sem gradualismo. Começará o ensino presencial para todos ao mesmo tempo. É arriscado. Não me parece uma boa decisão, a menos que existam motivos experimentais que desconheço. Até a identificação de percursos desde o portão da escola que evitem a circulação livre e o contacto entre turmas (as “bolhas”), até às refeições “leve-para-casa” e passando pela desconcentração de alunos nos espaços comuns, são soluções que atenuam o risco mas que não vão ao essencial: o número de alunos por turma que estão horas a fio na mesma sala; para além das dificuldades com os processos de higienização. Mesmo os planos B, que consideram a presença semanal alternada por anos de escolaridade ou algo semelhante, também não reduzem o número de alunos por turma. A única forma de evitar os já célebres 3 c´s (aproximação física, espaços fechados e aglomeração de pessoas) é criar “bolhas de 10 ou 15” em cada turma para frequência semanal. E sobre o isolamento das “bolhas”, importa recordar que a grande maioria dos professores lecciona em mais do que uma turma.

Do olhar escolar será assim. O gradualismo e a sensatez talvez impedissem o regresso à casa de partida. Talvez outros olhares, a começar pelos especialistas em imunidade de grupo, prefiram acelerar experiências que movimentem grandes massas populacionais enquanto é verão. Não sei. O que se espera, é que a prioridade de salvar vidas continue a nortear as decisões. Compreende-se o receio dos profissionais de educação. Mais de metade integra o grupo dos que têm mais de 50 anos de idade. Lá terá cada elemento da população escolar de entrar no tubo de ensaio, alunos incluídos, mas com a esperança de sair sem sequelas e com vida.

Nota: as “Orientações Ano Letivo 2020/2021”, da responsabilidade conjunta da DGEstE, DGS e DGE, e no seu ponto I – Medidas Gerais nas suas alíneas n) e o), diz assim: n) Privilegiar a via digital para todos os procedimentos administrativos, sempre que possível; o) Devem suspender-se eventos e reuniões com um número alargado de pessoas. Na Resolução do Conselho de Ministros do passado dia 27 de agosto  lê-se: “a Ministra sublinhou a importância de se manter «as regras de limitação de ajuntamentos – 20 ou 10 pessoas, conforme a situação de alerta ou contingência …”

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