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“pé atrás” no regresso às aulas

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A uma semana do arranque do novo ano letivo, prevista para 14 de setembro, a comunidade escolar mostra-se de “pé atrás” com as condições estipuladas para os estabelecimentos de ensino pelas autoridades de saúde.

Desde o primeiro dia do mês que os professores estão a apresentar-se nas escolas, mas nem todos. Alguns docentes, considerados doentes de risco, apresentaram atestados médicos e não estiveram presentes no dia do arranque. O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares e também diretor do Agrupamento de Escolas de Cinfães, Manuel Pereira, confirmou isso mesmo ao Jornal do Centro.

O responsável reconhece que, face à atual situação de pandemia, torna-se “normal” que “alguns professores e operacionais não se sintam com condições para irem trabalhar” por terem limitações físicas ou outras de saúde, nomeadamente diabéticos, doentes oncológicos e hipertensos. Manuel Pereira refere que a lei permite esta situação. Diz o dirigente que as escolas aguardam agora por informações do Ministério da Educação sobre a resolução destes casos. “Nós só vamos substituir se tivermos autorização, mas os professores que forem substituídos não perdem direitos”, frisa. Manuel Pereira admite a hipótese de os professores darem aulas a partir de casa. “Se a escola tiver um ou dois casos, não me parece muito difícil. Mas, na maior parte, não temos recursos humanos para acompanhá-los nestas circunstâncias”, alerta.

Já os sindicatos da classe docente apontam para outros problemas. Francisco Almeida, coordenador do Sindicato dos Professores da Região Centro, queixa-se do que considera ser o elevado número de alunos por turma. “Defendemos que as escolas devem regressar com o ensino presencial, mas isto deve ser feito com condições. O Ministério teve julho e agosto para ter criado essas condições e não o fez. A dimensão das turmas é uma questão central e há situações em que vamos ter 26 alunos numa sala de aula”, explica.

A falta de auxiliares nas escolas é outra preocupação do sindicato. Francisco Almeida lembra que o “número deficitário” já vinha antes da pandemia. “Para além se der necessário fazer o trabalho normal do dia-a-dia, nesta altura de pandemia é obrigatório o reforço da higiene e desinfeção dos espaços”, refere o sindicalista acrescentando que os funcionários auxiliares existentes não são os suficientes.

Entretanto, a Fenprof responsabilizou o Ministério da Educação pela abertura do ano escolar, em regime presencial, sem alegadamente ter assegurado as condições de segurança sanitária necessárias nos estabelecimentos de ensino. “As condições que se exigem para uma abertura das escolas não foram criadas”, afirmou o secretário-geral , Mário Nogueira.

Para o dirigente sindical, “o ensino presencial é essencial” para devolver alguma normalidade às escolas, já que “o ensino remoto, outra vez, seria trágico” para alunos, professores e pessoal auxiliar. O regresso às aulas, entende Mário Nogueira, deve ser acompanhado de “medidas rigorosas”.

Mário Nogueira voltou a defender, por exemplo, que o Ministério da Educação deveria ter efetuado “um rastreio à covid-19 a toda a comunidade escolar”.

Na opinião do líder da Fenprof “o ministério da educação esteve dois meses a dormir”, já que, argumenta, “não há rastreio, não há distanciamento, não há pequenos grupos de alunos e também falta pessoal”.

 

“Temos de ser todos agentes de saúde pública”, referem pais

Também os encarregados de educação mostram apreensão no regresso às aulas, já a partir do dia 14 de Setembro. Rui Martins, dirigente da Federação Regional das Associações de Pais, assegura, no entanto, que se mostra confiante na tomada de decisões que tornem seguro este voltar à escola. “Pais e filhos desejam o regresso às aulas. Temos de ter esperança que tudo vai estar assegurado de modo a evitar que qualquer um dos nossos filhos possa infetar-se. É isto que preocupa qualquer pai”, refere. Numa de altura em que a preferência recai no ensino presencial, a opção pelas aulas à distância pode ser, de novo, tomada. “Foi algo que funcionou, mas acabou por demonstrar a desigualdade de oportunidades. Nem todos os alunos tiveram acesso ao ensino quando foi à distância. Devemos evitar que isso torne a acontecer. Se assim for, ganhamos ao vírus”, argumenta Rui Martins.

Jornal do centro