Início Educação Pagar para trabalhar – Vida de muitos professores! – Por Alexandre Henriques

Pagar para trabalhar – Vida de muitos professores! – Por Alexandre Henriques

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Em busca de “migalhas” (entenda-se Tempo de Serviço) que nos faça aumentar a graduação e assim, pouco a pouco, irmos conseguindo “subir na lista” há professores que, literalmente, pagam para trabalhar – E isto é grave…

Leiam a análise assertiva do Alexandre Henriques do Blog ComRegras.  _________________________________________________________________________
Recentemente têm surgido notícias de falta de professores em algumas escolas. Algumas delas estão situadas nos grandes centros populacionais, nomeadamente na zona de Lisboa. Como é sabido, os grandes centros estão envolvidos numa bolha imobiliária que até rebentar condiciona muitos dos que lá querem/precisam habitar.

Muitos professores precisam de tempo de serviço e fazem tudo para obter mais uns dias que os ajude a subir na lista de graduação. Lisboa, em virtude da elevada idade dos seus professores, tem vindo a ser uma área onde as vagas vão surgindo com maior regularidade.
Apesar de existirem professores de carreira que ainda andam de mala às costas, os professores contratados são as principais vítimas do que se está a passar, até pelos seus ordenados mais baixos.
Mas vamos por partes…
Em primeiro lugar quanto ganha um professor contratado?
Grande parte da população nem sonha em ter um ordenado deste, mas se para alguns parece muito, a realidade mostra que para vários professores este ordenado não chega para cobrir as suas despesas.
Façamos por isso algumas contas:
Alugar neste momento um quarto na zona de Lisboa custa entre 300 € a 650 €, dependendo da zona. Vamos por isso colocar um valor médio de 450 € mensais. E já nem falo no luxo que seria um professor alugar um T1, mas pagar 750 € são “luxos” para outras profissões…
Fonte: OLX

Dependendo do transporte utilizado, o custo mensal pode rondar entre os 30 € e os 100 €(ver preços do metro). Vamos colocar como valor médio 50 €.
Se somarmos água, luz, gás, Internet, telemóvel, facilmente são mais 100 € a 150 €. Valor médio 125 € mensais.
Alimentação, pelo menos 300 € mensais(média de 10 € por dia).
Regresso a casa ao fim de semana, dependendo da zona do país e o meio de transporte utilizado, pode rondar entre os 100 € e os 500 €. Vamos colocar um valor médio de 250 € mensais.
Tudo isto perfaz um total de 1175 € mensais, pode ser mais pode ser menos, mas fica provado que dificilmente o ordenado de um professor contratado chega pagar as suas despesas. E reparem que estamos a falar de alguém que já não tem o espírito aventureiro dos 25 anos, que se dispõe a “perder” a família durante a semana e sujeita-se a viver numa casa com pessoas que nunca viu.
Além disso, a maioria destes professores tem casa própria que precisa de ser paga, filhos para alimentar, vestir, etc… Só aqui podem estar mais uns 1000 €…
Não é por isso de estranhar que cada vez menos professores querem esta vida, pois já não basta estarem longe da família e pagar para trabalhar, como ainda têm de dar aulas em ambientes escolares muitas vezes difíceis, com burocracia até mais não e sem a compreensão de alguns diretores que colocam estes professores a entrar às 8h30 de 2ª feira e a sair às 18h30 de 6ª feira.
Há professores e há professores e os professores contratados continuam a fazer o mesmo trabalho (ou até mais) que muitos professores do quadro, tendo no final do mês o prémio de levarem para casa apenas tempo de serviço pois os bolsos vão vazios…
Vale a pena? Não vale seguramente.
Agora imaginem quando os horários são incompletos e os professores vão receber 600, 700 ou 800 € por mês… Vocês iriam?

Fonte: http://www.comregras.com

3 COMENTÁRIOS

  1. Ola colega, parabéns pelo artigo que tem vindo a resumir a minha vida, infelizmente! tudo o que escreveu mostra a falta dr consideração, respeito pelas nossas vidas!!! Obrigada por ter escrito a triste realidade das nossas vidas.

  2. Olá colega!
    Como te compreendo.
    Não sou contratada, mas ainda estou no segundo escalão e os valores não são muito superiores ao que apresentas. Trabalho desde 1999, sempre colocada no primeiro concurso e com horário completo. Se tudo correr bem (sim, porque não são subidas automáticas como se diz por aí), subirei para o 3.º escalão em 2021.
    Quando falamos sobre este assunto, há sempre quem diga que há muita gente a ganhar menos… é verdade. Mas isso não quer dizer que ganhemos muito. Somos licenciados, especialistas no que fazemos, conduzimos a educação em Portugal e fazemos muito com o pouco que temos.
    Boa opinião!!

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