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O impacto da covid-19 na Educação: maioria dos países fechou escolas por mais de três meses

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Foi em meados de fevereiro que a China decidiu encerrar escolas para tentar evitar a propagação do vírus aí identificado pela primeira vez, num cenário que poucos ou ninguém mesmo imaginaria que passasse a ser a realidade um pouco por todo o mundo. Mas bastou um mês para que todos os 46 países membros e parceiros da OCDE optassem pela mesma solução, encerrando a totalidade ou uma parte significativa do seu sistema educativo. E a maioria fê-lo por três ou mais meses, Portugal incluído.

O relatório anual da OCDE dedicado à análise dos sistemas educativos (“Education at a Glance”) foi agora divulgado e não deixa de olhar para o impacto do mais importante acontecimento das últimas décadas e que levou ao maior fecho das escolas em simultâneo. Segundo o levantamento apresentado no relatório, houve 24 países que suspenderam as aulas presenciais durante 12 a 16 semanas. Noutros 13, o afastamento dos alunos das escolas durou entre as 16 e as 18 semanas. E, no caso da China, chegou aos 5 meses.

Portugal inclui-se no primeiro grupo, com as escolas a fecharem todas a 16 de março e a grande maioria a manter-se assim até ao final do ano letivo. A exceção aconteceu apenas para os alunos do 11.º e do 12.º anos.

A OCDE reconhece que é difícil ter fazer um cálculo preciso ao número de semanas de aulas afetadas pela pandemia, já que nalguns países a decisão ficou a cargo das autoridades locais ou escolas e há ainda que descontar o tempo normalmente atribuído a pausas e férias, como acontece no período da Páscoa, por exemplo. Além disso, houve países a reajustar calendários e a prolongar o ano letivo (caso de Portugal) para tentar minorar os impactos.

A Islândia e a Suécia foram a exceção à regra, mantendo o ensino para os mais novos com aulas presenciais sem interrupção.

Apesar da procura de soluções alternativas para o ensino – todos os países recorreram a plataformas online e outros complementaram com aulas pela televisão ou rádio e entrega de materiais educativos – a perturbação foi significativa e afetou sobretudo os mais desfavorecidos. “Os estudantes que não têm acesso aos recursos de aprendizagem digitais ou que têm menos resiliência e motivação para aprenderem por si próprios são os que estão mais em risco de ficar para trás”, lembra o relatório “O impacto da covid-19 na Educação”.

O IMPACTO NA MOBILIDADE DOS ALUNOS

Do lado dos professores, a preparação para transitar para um modelo de ensino exclusivamente online também estava longe de ser a ideal, nota a OCDE, referindo outros estudos recentes da organização que já davam conta quer de limitações de recursos tecnológicos, quer de familiaridade com o uso de novas tecnologias.

No último PISA (o maior estudo internacional na área da educação), um quarto dos diretores disseram que a falta ou inadequação de tecnologias digitais nas escolas estava a condicionar muito ou bastante o ensino. E no Talis de 2018 (“Teaching and Learning International Survey”), apenas metade dos professores disseram pedir com frequência aos seus alunos para recorrerem às tecnologias de informação e comunicação na realização de trabalhos escolares.

O impacto também se fez sentir no ensino superior, em particular junto dos estudantes que tinham saído dos seus países. Com as universidades a fecharem os seus campi e as fronteiras a encerrarem, a continuidade dos estudos e todos os outros motivos que levam os estudantes internacionais a escolher uma dada instituição estrangeira – conhecer outros alunos e professores, trocar ideias com docentes de reconhecido mérito nas suas áreas, fazer investigação nos laboratórios e ter a experiência de vida num campus no estrangeiro – foram postos em causa.

E as próprias universidades podem vir a ser fortemente afetadas por uma redução de receitas – muitas vezes as propinas pagas pelos estudantes internacionais são bem mais caras do que as aplicadas aos alunos nacionais – que servem para financiar as suas atividades de ensino e investigação, alerta a OCDE.

A retoma da tendência de crescimento desta população, que se tem sentido nos últimos anos, dependerá de um controlo da pandemia que ainda não se avista. Em Portugal, a percentagem de alunos internacionais inscritos no ensino superior duplicou de 4% em 2014 para 8% em 2018, acima da média da OCDE (6%).

O relatório chama ainda a atenção para as consequências que a pandemia pode vir a ter no financiamento público da Educação, mesmo após o controlo da pandemia. É que o esforço adicional que os países estão a fazer para reforçar os seus sistemas de saúde e de proteção social pode ter de ser feito à custa do investimento noutras áreas, como a Educação.

 

Expresso