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Marcelo quer plano para reabrir as escolas. Casos podem disparar? “Vai implicar riscos, mas temos de os correr”

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É um debate com meses, ao qual António Costa temj juntado quase sempre a mesma ideia. Em setembro de 2020, na altura do regresso às aulas, o primeiro-ministro disse: “A escola, em si, não transmite o vírus”. Em janeiro de 2021 repetiu que as escolas “não foram nem são o principal foco de transmissão”. Mas decidiu fechá-las — como “manda o princípio da precaução” — para conter o surto. E semanas depois, eis que os números descem.

 

Apesar da aparente relação causa-efeito, o que disse o primeiro-ministro pode não ter perdido validade. Os especialistas convergem na ideia de que não é na escola que o vírus mais se dissemina. O que não significa que ela não tenha enorme impacto. Porquê? A explicação está no que gravita à volta e na forma como a sociedade se comporta sempre que os portões se encerram.

 

“Agora há mais de um milhão de estudantes com as famílias, todos fechados em casa. Direta ou indiretamente, a escola tem impacto porque põe os pais em casa”, afirma Paulo Paixão, virologista e investigador da Nova Medical School (NMS). Iss não quer dizer que “não houvesse disseminação, sobretudo nos adolescentes”, mas “é o que rodeia a escola” que põe o peso na mola, uma imagem bastas vezes utilizada nesta pandemia e repetida terça-feira por Manuel Carmo Gomes na aula que deu a António Costa.

 

No primeiro confinamento, o número de casos desceu depois de as escolas fecharem. No verão continuaram baixos e, depois da reabertura, em setembro, o número de casos começou a subir. Depois do Natal, o número de casos disparou. E manteve-se alto, mesmo já com restrições em curso mas as escolas abertas. Depois de as escolas fecharem, os casos começaram a baixar. Susana Silva, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, considera que “esta descida de casos vem numa altura de sensibilização muito grande da população, uma ênfase pública na falência do Serviço Nacional de Saúde” mais forte do que em qualquer outra altura. Paulo Paixão anui: “As pessoas apanharam um susto, com todas aquelas imagens de filas de ambulâncias à porta dos hospitais”.

 

A quebra nas infeções não é, por isso, atribuível a uma só circunstância. Susana Silva lembra outra: “Quando as escolas fecharam, estava a chover. As pessoas efetivamente não saíam de casa”.

 

As condições eram ideais e o encerramento foi decisivo para que fevereiro tenha uma história diferente para contar em relação à do primeiro mês do ano. Em declarações ao jornal “Público” esta terça-feira, o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Carlos Antunes, apontou “uma relação de causa-efeito entre o fecho das escolas e uma desaceleração rápida” da covid-19 em Portugal. E Manuel Carmo Gomes, epidemiologista que deixou as reuniões do Infarmed, já tinha avisado no início do ano que não fechar as escolas era “adiar o inevitável”. Sabendo tudo isto, como pensar na reabertura?

 

Não há como evitar o tema, sobretudo depois de o Presidente da República ter publicado uma proposta de decreto para o novo estado de emergência, que ficará em vigor entre 14 de fevereiro e 1 de março, a pedir taxativamente “um plano para a reabertura”. Lê-se assim: “Deverá ser definido um plano faseado de reabertura com base em critérios objetivos e respeitando os desígnios de saúde pública”.

 

Esta quinta-feira, depois da reunião do Conselho de Ministros, António Costa voltou a recusar um peso tão direto das escolas nos avanços e recuos do número de casos durante esta pandemia. “Se fechássemos ainda mais atividades, a quebra seria ainda maior. Tenho dificuldade em isolar uma medida concreta”, apontou.