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Mapas para apontar o dedo – Domingos De Andrade

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Este é um texto para pais. E avós. E tios. E sobrinhos. Um texto para quem tem filhos na escola. Um texto sobre como a escalada da propagação do medo vem de todos os lados. E que estamos no tempo do vale-tudo.

Começou por ser uma guerra de números, com a Fenprof a reportar mais escolas com covid do que as comunicadas oficialmente pela Direção-Geral da Saúde (DGS). Esta semana a Federação Nacional dos Professores deu um novo passo nesse braço de ferro, divulgando uma lista nominal de estabelecimentos alegadamente com infeções, resultante de um levantamento feito pelas estruturas no terreno. Exigindo maior transparência, o líder Mário Nogueira considera que a DGS deve divulgar e manter atualizado esse mapa de escolas.

Não se contesta a necessidade de clareza e sobretudo de eficiência na intervenção dos delegados de saúde num ambiente tão sensível como é o meio escolar, assegurando a proteção de professores, auxiliares e alunos. Essa eficiência exige uniformidade de critérios, rapidez no isolamento de contactos e na testagem, e informação clara a quem ela é devida – profissionais e famílias efetivamente relacionados com os casos.

Mais difícil é entender para que serve, e a quem, uma listagem de nomes e escolas atiradas para a praça pública sem critério. Pior ainda, sem contexto (não é de todo igual a existência de um caso isolado ou de um surto) e colocando na mesma lista escolas com casos ativos e não ativos. É irresponsável e alarmista, já para não dizer que dá margem para muita especulação e erro. Como se viu, de resto, com o facto de a própria Fenprof se ver obrigada a corrigir a lista pouco depois de a divulgar.

A Comissão Nacional de Proteção de Dados tem alertado para as transgressões cometidas na divulgação de informação sigilosa, numa doença que tem estado rodeada de uma carga de estigmatização inaceitável. Numa escola com centenas ou milhares de alunos, têm de ser informados aqueles cuja segurança é posta em causa, mas não mais do que isso. Mapas públicos e listagens descuidadas e alarmistas, para que se possa apontar mais facilmente o dedo, não, obrigado. E sim, o autor deste texto tem filhos pequenos na escola.

JN