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Higiene reforçada, máscaras e mais tecnologia. Como se prevê o próximo ano letivo

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Quer nas escolas públicas quer nas privadas, o próximo ano letivo não se prepara da mesma forma nem ao mesmo ritmo. E se as primeiras continuam dependentes de diretrizes do governo, as segundas já dão asas à sua autonomia para delinear vários planos possíveis para a linha de partida, dada a imprevisibilidade dos tempos. Há, no entanto, um consenso entre ambos os setores: a escola não será a mesma que começou por ser no início do ano letivo que passou e há regras que vieram para ficar.

Para já, no ensino público, os diretores de escolas estão de mãos atadas, a aguardar o documento orientador do próximo ano letivo, que o Ministério da Educação prometeu fazer chegar dentro de dias. Um documento enviado todos os anos às escolas e que “não costuma mudar de ano para ano”, mas que “deverá ser muito diferente” agora, pela primeira vez, dadas as circunstâncias em que o ensino terá de operar, em plena pandemia. Por isso mesmo, os diretores consideram que deve chegar “o mais rapidamente possível, para que haja tempo para preparar bem o ano”, diz Filinto Lima, dirigente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

Para já, sabe-se que o ano irá arrancar entre 14 e 17 de setembro, apenas uma semana após o final da segunda fase de exames nacionais do ensino secundário. As primeiras cinco semanas deverão ser de recuperação de aprendizagens que podem ter ficado em falta durante o decorrer do final do presente ano, com o acesso às aulas dividido entre alunos de diferentes contextos sociais.

Apesar dos esforços, esta diferença não esbateu. Alternativas como o #EstudoEmCasa (as aulas transmitidas todos os dias úteis na RTP Memória, para os alunos do 1.º ao 9,º ano) e a cooperação com as forças de segurança e as autarquias para fazer chegar trabalhos de casa a alunos pode ter mitigado o problema daqueles que não tinham meios para alcançar os seus professores, mas não o eliminou. Por isso mesmo é que o Ministério da Educação propõe que as primeiras cinco semanas se trabalhe no sentido de tentar colocar todos em pé de igualdade para, depois sim, arrancaram o ano a partir do mesmo ponto.

Para fazer frente ao desafios que esta necessidade de recuperar o tempo perdido impõe, a tutela promete triplicar o número de alunos em programas de tutoria, um apoio que até agora estava apenas destinado a cerca de 20 mil alunos do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e que será alargado também os alunos do ensino secundário. Além disso, destacou 125 milhões de euros para contratações nas escolas – pessoal docente e não docente.

Uma das formas de apoiar os estudantes mais carenciados no ensino que poderá ser misto (presencial e à distância) passará pela compra de computadores para os estabelecimentos de ensino e alunos carenciados, onde o governo prevê investir 400 milhões de euros.

“A questão, este ano, já não é sobre se vamos ter ensino à distância, mas como vamos integrar a tecnologia no ensino”

Privadas apostam em aulas com mais tecnologia

A experiência do ensino à distância foi distinto entre alunos de escolas privadas e alunos de escolas públicas. Se no segundo caso o país se deparou com a angústia de vários pais e professores que não conseguiam fazer chegar o material pedagógico aos alunos – ou por falta de um computador ou por falta de acesso à internet na sua residência -, o primeiro caso saiu mais privilegiado. Feitas as contas, nos estabelecimentos privados e cooperativos, o ensino à distância “foi uma experiência muito positiva”. “Claro que todos preferíamos ter estado lá presencialmente, porque nada substitui o ensino presencial, mas foi uma experiência muito mais positiva do que as pessoas esperavam”, garante Rodrigo Queiroz e Melo, diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP).

No entanto, mudam-se os tempos, muda a discussão. Na perspetiva do representante da AEEP, “a questão, neste ano, já não é sobre se vamos ter ensino à distância, mas como vamos integrar a tecnologia no ensino”. Aliás, na semana passada, na reunião da associação com o ministro da Educação, que auscultou várias entidades representantes de dirigentes escolares e professores, foi pedido pela AEEP “que fosse possível podermos ter períodos de ensino presencial e não presencial, em que os alunos têm este período estão a trabalhar mais autonomamente”. “Não porque não os queiramos na escola, mas porque há imensas vantagens nesta abordagem”, esclarece Rodrigo Queiroz e Melo.

Finalizado o ano letivo mais desafiante da história desde que se lembra, conta que há professores que manifestaram vontade de continuar a integrar a tecnologia de forma ativa nas suas aulas. Um modelo não testado anteriormente pela vasta maioria dos estabelecimentos devido à “falta de tempo” para o aplicar. Como, aliás, lembra António Teodoro, numa entrevista ao DN a propósito dos rankings das escolas publicados este ano. Na opinião do diretor do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona, o ensino privado em Portugal, está, de forma geral, mais focado na preparação para os exames do que na inovação.

A maior preocupação, a nível curricular, passa pelo funcionamento da disciplina de Educação Física, que conta com desportos coletivos que envolvem contacto.

“A vida é muito intensa e tudo é muito rápido, por isso, não tínhamos tempo para inovar, mas durante as férias da Páscoa nós fomos obrigados a reinventarmo-nos. Não havia outra opção. E houve muito mais abertura para a tentativa erro”, conta o representante da AEEP.

A maior preocupação, a nível curricular, passa pelo funcionamento da disciplina de Educação Física, que conta com desportos coletivos que envolvem contacto. “Aqui, estamos dependentes daquilo que as autoridades de saúde disserem. Haverá educação física, mas pode não ser nos moldes habituais, evitando o contacto.”

Aulas com máscaras são para ficar

Ao contrário das escolas públicas, as privadas têm mais autonomia para decidir, para já, como poderá decorrer o próximo ano letivo. “Já começamos a preparar, um plano A, um plano B e talvez tenhamos de ter um plano C”, uma vez que a pandemia tem provado ser tão imprevisível, continua. A não ser que “haja alguma orientação do governo que indique algo muito diferente no funcionamento das escolas”, expectativa é que “o ano letivo possa começar dentro de alguma normalidade”. “Alguma porque teremos regras que devemos manter”, lembra.

O mais fundamental para o sucesso do arranque do ano letivo passará por definir planos de contingência

Um dos grandes desafios, admite quer o setor privado quer o público, passará pela construção dos horários, para tentar que haja o menor contacto entre grupos. “Mas tudo isto sem drama, sem alterar o que não é alterável, porque não podemos ter alunos e professores até às 20.00 na escola”, diz. Rodrigo Queiroz e Melo.

Acrescenta que o mais fundamental para o sucesso do arranque do ano letivo passará por definir planos de contingência. “Quando corre tudo bem, parece não importar muito. Mas quando corre mal, são fundamentais. Se aparece um miúdo com febre, temos de saber como reagir”, alerta. E frisa: “Prevenção, prevenção, prevenção.”

Fonte: DN