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Haverá Democracia No Sistema De Ensino?

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Volta e meia aparecem uns estudos que viram ricos contra pobres, privados contra públicos e no fim todos perdem!
Nos últimos dias, foi-nos apresentado pelo Jornal Público um estudo feito pela Edulog, Fundação Belmiro de Azevedo,  que retira algumas conclusões que nos deverão fazer refletir sobre o estado da Escola Pública e a sua obrigação primária que seria a promoção de igualdade de oportunidades.
Segundo o estudo, o nosso sistema de ensino reproduz desigualdades económicas e sociais, ou seja pobre é, pobre será, rico é, rico será! Uma das informações que retive, e como exemplo, foi a de que 70% dos estudantes de medicina são filhos de pais com formação universitária.
Tenho lido várias análises sobre este facto, todas com bons argumentos, mas todas elas apontando a própria sociedade como a principal culpada. Acho precipitado atribuir a culpa aos demais sem nunca se referir aos próprios.
Considero que quer as expetativas quer a importância que a Escola tem no seio dessas famílias, com menos recursos, pesa e de que maneira na forma como os seus filhos veem a escola e por isso na forma como se empenham! Porque é que ninguém diz isto?
O foco dos esforços devem ser feitos aqui, garantir a todos, os que necessitam, uma escolaridade obrigatória, ou até um curso superior, e dar-lhes recursos, mesmo que financeiros, para que os alunos se possam apenas preocupar em estudar…mas deixo claro que, sendo totalmente a favor da igualdade oportunidades para todos, não o sou a todo o custo!
Passo a explicar, sou a favor que o Estado, ou seja, todos nós contribuintes, possamos financiar um curso universitário a quem quiser aproveitar essa oportunidade, mas sou contra a que se sustente eternos estudantes que apenas se mantém no sistema para receberem os abonos…
O estudo indica-nos que o nosso sistema educativo está a falhar numa das suas funções mais importantes: garantir os mesmos direitos a todos os cidadãos, mas isso não é de facto uma novidade,  o que me custa ler nas várias análises é que isso se deve exclusivamente ao falhanço social/democrático e nunca colocam o indivíduo como parte da sociedade e portanto com a sua cota parte de responsabilidade em todo o seu percurso.
Casos há, felizmente, de famílias com menores recursos em que os filhos estudam até se formarem, seja em medicina ou em qualquer outro curso alcunhado de “melhor”, mas nessas, quase que vos posso garantir, que a valorização da escola, assim como o empenho exigido é grande!
Casos há, (in)felizmente, de famílias com maiores recursos em que os filhos não estudam, nem se formam, mas nessas, quase que vos posso garantir que a valorização da escola, assim como o empenho exigido é pequeno!
Há quem aproveite este estudo para atacar, por questões ideológicas, os colégios privados, tenham ou não contrato de associação, como se, sem eles, o sistema não falisse, experimentem acabar com tudo o que seja iniciativa privada e verão se teremos um país melhor!
Se os colégios selecionam os seus alunos e as escolas públicas não, é simplesmente porque não há liberdade de escolha, uns sujeitam-se, outros, podendo, não o fazem!
Quando se ataca a possibilidade de qualquer um, através dos contratos de associação, poder escolher a escola/colégio para os seus filhos não se pode na mesma frase dizer que não há igualdade de oportunidades.
Pergunto eu: o que faz o estado com o dinheiro que poupa em cada um dos 395.781 alunos que frequenta o ensino privado?  (dados da PORDATA)
Será que investe na Escola Pública?
Será que investe em bolsas para os carenciados?
Onde coloca esse dinheiro?
Esta questão é muito complexa e mexe com o futuro do nosso país, temos de assumir que é um problema, deixar ideologias de lado e planear um programa educativo em forma de pacto social para que pelo menos em 20 anos não se altere e se possa colher frutos.
Não podemos continuar a ter uma Escola onde o professor não é valorizado, onde o professor é constantemente desautorizado, onde prevalece o folclore da flexibilidade, da inclusão e do facilitismo onde os esforço são ridicularizados, onde da preguiça se conseguem “sacar” medidas universais de transição/aprovação automática.
A Escola, que devia ser democrática, tem sido um laboratório de experiências ideológicas de cada um que lá passa, os professores não têm voz nas decisões estruturais, a indisciplina assombra as escolas públicas sem que ninguém aja em concordância!
Assim é difícil que haja igualdade de oportunidades, pois tendo em conta a obrigatoriedade de colocar os filhos na área de residência, mais uma vez privando a liberdade de escolha dos pais, torna todo o sistema pouco democrático, pouco amigo da igualdade de oportunidades…
Alberto Veronesi