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Foi de lágrima ao canto do olho que a mandei para o primeiro dia de aulas – Helena Tecedeiro

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A primeira vez que deixei a Mariana na escola, ela ainda nem tinha cinco meses. Eu ia voltar ao trabalho depois da licença de maternidade e a minha bebé foi para a Academia dos Miúdos. Claro que se me apertou o coração quando a deixei no infantário, mas vê-la ao colo da funcionária tranquilizou-me. Ela estava bem. Como estava bem quando a fui buscar. E no dia seguinte e nos restantes. Desde que lhe mudassem a fralda, dessem o leite e brincassem com ela, a Mariana estava feliz. Não chorei. Como não chorei quando a deixei na CEBE com 3 anos e ficou a brincar na sala e depois a explorar todo o espaço exterior da nova escola. Muito menos chorei quando entrou para o 1.º ano. A escola era a mesma, os colegas também e a professora Carla viria a ser adorada pela minha filha. Mas foi de lágrima ao canto do olho que hoje a fiquei a ver ir debaixo do chapéu-de-chuva para o 5.º ano na Delfim Santos.

Lamechice agora? Talvez. Porque pela primeira vez senti que não conseguia proteger a minha filha. Não a conseguia proteger do choque de uma escola nova, pública, grande, desconhecida. Mas isso faz parte do que é crescer. Mas sobretudo não a conseguia proteger de uma doença que ninguém sabe exatamente como evolui e parece decidida a alterar tudo aquilo que até agora dávamos como certo..

 

A Mariana até pode ter os livros todos prontinhos, os cadernos comprados, os lápis de cor e o papel cavalinho. Mas desta vez o material escolar inclui máscaras e gel.

 

A informação que chega é vaga. Talvez a refletir as dúvidas que não atingem só os pais mas estão a ser para as escolas um dos maiores desafios.

 

Quando saímos de casa chovia a cântaros. Mesmo. Daquelas chuvas a mostrar que o outono vem aí e o verão já era. A fila de crianças à porta da escola já ia longa apesar de ainda faltarem alguns minutos para a hora marcada para as apresentações do 5.º ano. Mas foi andando e, quando chegou a vez dela, larguei a mão da minha filha e disse-lhe: “Vai, vai correr bem. Boa sorte!”

 

Vai mesmo? Acredito que sim. Ninguém duvida da capacidade das crianças para se adaptarem a tudo. Muito menos eu que com 13 anos fui obrigada a mudar de país, de língua e a entrar numa escola onde não conhecia vivalma. Correu bem? Correu.

 

Mas neste momento são ainda mais as dúvidas do que as certezas que pairam na minha cabeça e nas dos outros pais. Como vão ser os almoços? E as aulas de Educação Física? Se um professor faltar, onde é que eles ficam? Etc. Etc. Etc.

 

No final da apresentação, a Mariana vinha sem grandes informações novas, mas feliz por reencontrar alguns amigos que ficaram na turma dela.

 

Amanhã há mais. E eu prometo já não ficar de lágrima ao canto do olho.

DN