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Fechar ou não fechar (algumas) escolas, eis a questão

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António Costa tem-se manifestado contra o fecho de escolas pelos vários impactos negativos – pedagógicos, económicos, sociais – que a decisão acarreta, mas mostrou-se disponível para ouvir o que dizem os especialistas sobre a matéria. Esta terça-feira, na reunião que juntou especialistas em epidemiologia e saúde pública e representantes políticos, ouviu o suficiente para lhe permitir tomar qualquer decisão.

No final do encontro, o primeiro-ministro adiantou o que já decidiu que não vai fazer – encerrar os estabelecimentos de ensino dos mais novos, pelo menos até aos 12 anos, ou seja as escolas até o 2º ciclo do ensino básico, nem interromper as avaliações que estão a decorrer no superior. Mas não revelou o que vai fazer com as escolas do 3º ciclo e do ensino secundário.

“Segundo os especialistas nada justifica o encerramento das escolas até aos 12 anos. Mas para os grupos etários seguintes, os especialistas dividem-se. Embora todos concordem que a escola em si não é um local de disseminação de infeção, é mais um fator de movimentação e isso pode aumentar o risco de transmissão”, explicou em declarações aos jornalistas.

Na reunião no Infarmed, Baltazar Nunes, responsável pela unidade de epidemiologia do Instituto Dr. Ricardo Jorge, foi o especialista a abordar o assunto de forma mais exaustiva. Com base em projeções para diferentes cenários, Baltazar Nunes deixou claro o que os modelos matemáticos indicam: “A mensagem é esta: fechar e reduzir a transmissão nos outros locais, próximo do confinamento de março e abril, mas mantendo as escolas abertas permite reduzir o índice de transmissibilidade (o R) abaixo de 1. Mas se fechassem todos os estabelecimentos de ensino, isso aconteceria de forma mais pronunciada”.

O trabalho desenvolvido com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa permite perspetivar a evolução do índice de transmissibilidade (que tem de ser inferior a um para fazer diminuir o crescimento dos contágios) em diferentes cenários. Se nada fosse feito, a subida continuaria a ser exponencial, com o respetivo reflexo num aumento insustentável de hospitalizações.

Se houver um confinamento no trabalho, na comunidade e em todos os locais equivalente ao de março e abril (só com o comércio essencial aberto e algumas atividades como a agricultura e a indústria) e se mantiverem a funcionarem todas as escolas de todos os níveis de ensino, em um mês o R pode descer para 0,73.

Se a opção for fechar todas as escolas e passar todos os alunos para o ensino à distância, então o R deverá descer para 0,63. A solução intermédia – fechar apenas o 3º ciclo e o secundário, mantendo aulas presenciais apenas para os menores de 15 anos – o R cairá para 0,68.

Também Henrique de Barros, presidente do Conselho Nacional de Saúde, fez questão de lembrar que as escolas não têm sido locais de transmissão e que no caso particular do ensino superior, estudos já apresentados mostraram que o risco de infeção na faixa etária entre os 20 e os 29 anos é maior entre quem não está a estudar do que entre quem frequenta o ensino superior.

ESCOLAS RESISTIRAM DURANTE O 1º PERÍODO

Assumindo que perante a falta de consenso técnico e científico, a decisão será sempre “política” e admitindo que a questão divide até membros do Governo, será pois necessário esperar pelo Conselho de Ministros de quarta-feira para conhecer a decisão final e que deve vigorar durante um mês.

Para já, diretores de escolas e até sindicatos têm defendido que é possível, e preferível, continuar com aulas presenciais para todos, e gerir a situação tal como foi feito no 1º período. Ou seja, à medida que surgiam casos, as turmas eram enviadas para casa em isolamento por períodos de 14 dias, mantendo-se a restante comunidade escolar fisicamente nas instalações. E a verdade é que o encerramento de escolas foi absolutamente excecional, acontecendo apenas em alguns concelhos e em casos em que a transmissão comunitária era muito intensa.

A situação mais extrema aconteceu em Paços de Ferreira, que chegou a ter uma incidência superior a quatro mil novos casos por 100 mil habitantes em 14 dias, um dos valores mais altos da Europa. Os alunos do concelho foram mandados para casa no início de novembro e só regressaram agora no 2º período. Mas mesmo aí, o ensino presencial só foi interrompido para os estudantes do secundário e do profissional.

Também é certo que a situação epidemiológica agravou-se muito após o Natal e que o país vive com taxas de incidência, internamentos e óbitos mais altos do que nunca. E que neste 2º período, já houve municípios que iniciaram as aulas à distância, com os alunos a aprender de casa em meia dúzia de concelhos. Caberá agora ao Governo decidir se esta continuará a ser a exceção ou o modelo que será aplicado aos estudantes do 7º ao 12º anos nas próximas semanas.

Fonte: Expresso