Início Educação Fechar 15 dias? Escolas abertas? Só a brincar! – Luís Delgado

Fechar 15 dias? Escolas abertas? Só a brincar! – Luís Delgado

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Seria muito bom que não fossem criadas expetativas sobre o confinamento geral que o país vai enfrentar esta semana. A ideia de que poderá ser apenas por 15 dias cria uma esperança que não existe, e conviria esclarecer os portugueses, se queremos atenuar a propagação do vírus, e dar oxigénio aos hospitais e equipas, que vamos estar fechados, no mínimo, por quatro a seis semanas. Seis semanas. Um mês e meio, e mesmo assim sem se perceber se isso dará tempo de recuperação ao SNS. Nenhum cientista, especialista, técnico que seja ouvido na terça-feira poderá garantir que bastam 15 dias, ou seis semanas. É uma boa altura para serem frontais, ou então reconhecer que não estão capazes de aconselhar o PR e o PM. E dizer, já agora, que é mais uma loucura deixar as escolas abertas. Temos de acabar com o faz de conta que se confina. As escolas não podem ficar abertas. Podem ser, ou são, como alguns suspeitam, uma séria fonte de contágios.

Não há outra saída. Não outra forma ou medida. Não há médicos, nem enfermeiros, nem técnicos de saúde para fazer frente aos internamentos e UCI. E não havendo, passa a ser absurdo dizer que se vão criar mais enfermarias, e unidades de cuidados intensivos. Com quem? Onde estão? Todos os recursos humanos estão mobilizados, incluindo nos hospitais privados, e não existem mais. Como diz Joana Gonçalves de Sá, na coluna aqui ao lado, os «hospitais vão começar a fazer escolhas impossíveis já esta semana». Está tudo dito. Alguns, eventualmente, já tiveram de fazer essa escolha: quem é internado, quem vai para as UCI, e quem se abandona à sorte. Aconteceu em Itália, em Março, vai acontecer em Portugal. Ou já está a acontecer, suspeita-se.

Como foi possível chegar até aqui? Até ao fim da linha. Até ao ponto de escolher entre quem vive e quem morre. Quem foi mal aconselhado? Quem não disse tudo ao Governo? Quem foi negligente e desleixado? Só o Governo, ou quem o aconselhou? A abertura do Natal, e a desvalorização da rapidez de propagação das variantes, deveria ter sido combatida vigorosamente por quem sabe, e que não tivesse tido medo de dizer abertamente ao Governo, ao primeiro ministro, e ao Presidente da República, que seria dramático. «Não podem. Vão morrer muitas pessoas. Não temos recursos humanos para uma explosão de contagiados. Se fizer isso é uma irresponsabilidade». Alguém, de tantos cientistas, especialistas e técnicos, ouvidos no Infarmed, disse isto ao PR, ao PM e à ministra da Saúde? Ou encolheram-se? Ou invocaram a falta de informação? Ou esconderam-se atrás da imprevisibilidade da pandemia?

Por causa desse medo, ou dessa incapacidade de avaliação e de prospetiva, ou de olhar para os outros países, e para todos os modelos, e ouvir os colegas que estão na primeira linha, o Governo foi embalado no clima favorável das futuras vacinas (mais uma desilusão) e ninguém teve coragem, lucidez, e frontalidade de avisar solenemente o PM e a ministra da Saúde, que seria um erro desastroso, de consequência inaceitáveis, relaxar as medidas, em particular numa quadra em que se juntam as famílias. Nenhuma dúvida de que se o aviso tivesse sido direto, muito claro, e sem hesitações, o Governo não teria aliviado no Natal, nem no Ano Novo, e esta semana não estaríamos, outra vez, em confinamento geral. Que lhes doa a consciência. Pesadamente. Infinitamente. Sem perdão.

Visão