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Exaustão e desigualdades no acesso à escola

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Uma semana depois do lançamento da plataforma escolapublica.pt(link is external), foram recolhidos vários testemunhos de docentes que falam da difícil articulação do teletrabalho, das desigualdades do acesso à escola de forma remota, e do nível de exaustão dos professores, alguns a trabalhar ininterruptamente desde há vários meses. O site junta testemunhos e propostas de docentes do ensino pré-escolar, básico, secundário e profissional, de todo o país.

Um dos testemunhos recebidos(link is external) é de uma encarregada de educação, e professora do 3º ciclo do ensino básico, que fala sobre o acesso desigual dos alunos aos meios tecnológicos, necessários para aceder à escola por via remota, e também sobre o seu trabalho, que decorre de forma ininterrupta desde o dia 27 de Fevereiro.

“Os recursos da escola (tablets, portáteis e computadores) não foram disponibilizados aos alunos carenciados e estão todos “off” na escola. A autarquia não providenciou Net para todos os alunos. Estou a trabalhar ininterruptamente desde 27 de fevereiro, não tive direito à higiénica e necessária interrupção letiva da Páscoa. E a partir de 16 de março estou a trabalhar em média 12 horas por dia. Compreendo que situações excepcionais exigem medidas excepcionais, mas dizer umas coisas bonitas na televisão, aos professores, não chega e não nos convence”. A professora, da região educativa “Norte”, propõe que as autarquias aloquem recursos para garantir um acesso à internet a todo o concelho.

Um outro testemunho(link is external), de uma professora do 3º ciclo e do secundário, da região educativa “Centro” fala “de professores com um elevado nível de exaustão que estão com receio de ficarem de atestado”. A docente refere que a “maioria dos professores do nosso agrupamento começou logo a leccionar com as plataformas disponíveis associadas ao mail da escola”. “Estamos a falar de um trabalho muito intenso que para o colocar em prática é necessário muito tempo de preparação, do qual os professores não dispuseram, nem de formação adequada, que tem surgido aos “bochechos” e por vezes já fora de tempo”, diz a professora.

Para ir ao encontro destas dificuldades a professora da região centro sugere, por exemplo,  uma formação “de qualidade e gratuita para os professores poderem enriquecer os seus conhecimentos pedagógicos”, e a redução “do número de alunos por turma, de acordo com os espaços das salas de aulas das escolas”.

Um terceiro testemunho(link is external), de uma professora do ensino básico da região “Norte”, numa zona economicamente desfavorecida no centro do Porto, descreve as situações de desigualdade no acesso à escola. “Tenho acompanhado alunos que não têm computador nem impressora em casa e fazem os trabalhos através do telemóvel; pais humildes e com poucas qualificações escolares “perdidos” pois não conseguem apoiar os filhos no estudo; casais com 3 e 4 filhos a estudar, onde existe apenas um computador; famílias sem acesso à internet; pais em teletrabalho com regime de cumprimento de horário, então os filhos estudam aos finais da tarde e aos fins-de-semana… Tudo está ao contrário aqui! Nada está bem!…”

A professora insiste na articulação entre as escolas e as autarquias para “procurar resolver os problemas daqueles que não têm equipamentos; dos que necessitam de algum apoio diferenciado; dos que não acedem à internet; e de todos aqueles que estão à margem”.

Fonte: Esquerda