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Do Regresso Quase Sem Intervalo – Paulo Prudêncio

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As aulas regressam amanhã e há quem se surpreenda com a pressa. É novamente tudo presencial e numeroso e quase duplamente sem intervalo: o calendário escolar tem menos pausas e a pandemia é o que se sabe. Pelo que se percebe, as aulas presenciais na maioria dos países da Europa começam em meados de Janeiro; havendo alguns com aulas apenas online nos próximos tempos.

Há uma reduzida discussão mediática sobre as condições nas escolas. As raras incursões, como fez Clara Ferreira Alves na última revista do Expresso, têm interrogações do género: “E como foi possível deixar os professores de fora dos grupos prioritários?“. Francamente, não tenho informação suficiente para debater os critérios de vacinação. O que sei, é que os professores, que são sempre muitos para qualquer assunto a exemplo dos outros profissionais da educação, leccionaram turmas numerosas com alunos que testaram positivo. Em muitos casos, não foram contactados nem entraram em isolamento profiláctico ou quarentena: não entraram os professores nem os restantes alunos (que, em muito casos, estavam nas aulas sem máscara).

Para além disso, há todo um universo que é uma lição. Por exemplo, para que se volte a circular com segurança no planeta é necessário que quase todos estejam imunizados. É essencial que se generalize a vacina. Ou seja, os pobres também têm que ser vacinados.

Mas voltando às comparações no espaço europeu, a Suécia tem sido muito mediatizada porque falhou na protecção aos idosos. Li, pelo Público de 22.12. 2020, no texto, “da Suécia, com calma e cautela”, de Pedro Franco (um investigador português que vive na Suécia):

“(…)Quando Johan Giesecke (epidemiologista chefe da Suécia) disse em Abril que a falha nos lares tinha levado à morte de pessoas que, de qualquer forma, morreriam dali a poucos meses, fiquei escandalizado. O que para ele era matemática antecipada (dizia que os países da UE chegariam ao fim com um número semelhante de mortos), para mim, latino e de povos mais calorosos, parecia uma análise fria. Só depois de perceber o funcionamento dos lares é que entendi o que ele queria dizer – o SNS sueco providencia apoio na velhice ao domicílio, portanto, as pessoas só saem de suas casas para os lares numa fase da vida em que já estão bastante debilitadas. O mesmo é dizer que a estadia nos lares não é longa, em contraponto com a nossa realidade onde, por vezes, “despejamos” os mais velhos por longos anos. Nesse contexto, percebi o sentido da frase de Giesecke. Não sei se estará certo ou não mas, oito meses depois, o número de mortos em Portugal aproxima-se da realidade sueca a uma velocidade preocupante.(…)”

Também se comparam as relações de trabalho. O tele-trabalho ajuda a combater a pandemia e já se conhecem histórias que demonstram o nosso atraso organizacional e os tais tiques autocratas. Também aí se esperam aprendizagens rápidas. Por exemplo, ouvi um debate sobre este estudo (Quatro em cada cinco pessoas estão no local de trabalho habitual. Estudo da Católica revela que um quarto dos inquiridos tem hoje menos rendimento do que antes da pandemia.”) com uma triste revelação: os empregadores portugueses queriam que o tele-trabalhador estivesse em casa. Ainda pensei que fosse para lhe montaram o equipamento tecnológico. Mas não. Hardware, software e ligações eram por conta própria. Era para o controlarem ou apenas porque sim. O ridículo não tem, realmente, limites. Há um mundo de infantilização e de pequenez que lá vai tendo as suas caricaturas e momentos humorados (imagino as dificuldades natalícias para quem não tinha compotas para a troca).

Mas no que realmente interessa, já se percebeu que não foi apenas a Suécia a registar números trágicos com os idosos. Foi quase todo o ocidente. É preferível assumir isso, como os dirigentes suecos, do que passar a vida a adulterar a realidade; e como a 3ª vaga parece inevitável, não há pior do que não corrigir procedimentos.

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