Início Educação Devemos (e podemos) reabrir as escolas já em março?

Devemos (e podemos) reabrir as escolas já em março?

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O mais perto que se esteve de debater o desconfinamento na última reunião entre os responsáveis políticos e os peritos científicos, esta segunda-feira no Infarmed, foi quando João Gouveia, coordenador do Grupo para a Coordenação da Resposta em Medicina Intensiva, apontou as condições necessárias para aliviar a pressão que a Covid-19 tem colocado sobre o Serviço Nacional de Saúde. Terá sido ele o mais claro numa reunião onde faltaram as linhas vermelhas e os critérios bem definidos para o desconfinamento que o Governo esperava ouvir.

Disse o médico que os hospitais só terão controlo sobre a situação quando:

  • incidência for inferior à baliza de 240 a 480 novos casos por 100 mil habitantes em 14 dias;
  • o número de reprodução (R) estiver abaixo de 0,7;
  • taxa de positividade (número de testes positivos entre todos os realizados) for inferior a entre 7% e 8%;
  • houver um atraso nos inquéritos epidemiológicos inferior a 30%;
  • os internamentos estiverem abaixo dos 1.500;
  • os internamentos em cuidados intensivos estiverem abaixo dos 242;
  • e a vacinação ocorrer a “excelente ritmo”.

 

Nem todos estes parâmetros estão cumpridos, mas, segundo uma carta aberta assinada por peritos em diferentes áreas da sociedade, incluindo epidemiologistas e médicos de diversas especialistas, a escola deve reabrir “rapidamente em moldes presenciais, com segurança e de forma contínua, começando pelos mais novos”. Este grupo inclui, por exemplo, o epidemiologista Henrique Barros (que participa nas reuniões do Infarmed) e o virologista Pedro Simas e considera “urgente” “adotar medidas, com base na ciência e nos dados, capazes de proteger a escola como um bem essencial”.

Na carta, os especialistas sugerem uma reabertura faseada: “Reabrir as creches e os estabelecimentos de educação pré-escolar no início de março“, “abrir o ensino básico a partir do início de março, gradualmente, a começar pelos 1º e 2º ciclos” e “dar prioridade às componentes práticas do ensino artístico e profissional“. No total, são onze os pedidos expressos no documento, fundamentados com 10 argumentos que pode ler aqui.

À saída da reunião no Infarmed, a ministra da Saúde evitou comprometer-se com datas ou planos. Mas assumiu aquilo que já tinham dito outros membros do Governo: a ideia é mesmo começar a reabertura pelas escolas. O tema não é, contudo, consensual. Alguns especialistas ouvidos pelo Observador defendem que ainda é cedo para tomar qualquer decisão — e alertam que, qualquer que ela seja, implicará sempre um desconfinamento lento e gradual.

Impacto sobre ensino é maior que o risco para a saúde pública

A reabertura gradual das escolas é defendida na carta aberta apesar de só um dos critérios apontados por João Gouveia estar cumprido: as autoridades de saúde calcularam que, neste momento, o número de reprodução ronda os 0,67 (chegou mesmo a baixar aos 0,64 a 11 de fevereiro) em todas as regiões do país, o que justifica a redução quase diária do número de novos casos positivos de infeção pelo coronavírus. É o valor mais baixo da Europa atualmente e o mais reduzido de sempre em Portugal.

Mesmo assim, tendo em conta os dados desta segunda-feira, a incidência é agora de 295,7 novos casos por 100 mil habitantes em 14 dias — acima do mínimo defendido pelo coordenador da DGS para a resposta dos cuidados intensivos. Segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde, ainda há 3.322 pessoas internadas com Covid-19, 627 das quais nos cuidados intensivos. Segundo o Our World in Data, uma ferramenta da Universidade de Oxford, a taxa de positividade está agora nos 7,1%.

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