Quando olhamos para o estado da educação no nosso país é inevitável não pensarmos nas desigualdades que se vão acentuando no seio da comunidade estudantil. Ficamos legitimamente indignados, porque sabemos que tudo isto poderia ter sido certamente evitado, tivesse o Governo planeado com a devida antecedência um possível regresso ao ensino à distância que se tornava cada vez mais inadiável com a escalada no número de novos casos de Covid-19 registado diariamente no país. Mas, infelizmente, como se costuma dizer, uma desgraça nunca vem só e parece-me que ultimamente a comunicação social se tem esquecido, talvez até propositadamente, da peça essencial do ensino em Portugal: os professores.
No dia 14 de janeiro, o Governo aprovou um Decreto-Lei que obriga ao teletrabalho, sempre que este é possível (o incumprimento desta medida constitui uma contraordenação). Perante uma situação de teletrabalho e a menos que haja alguma estipulação a este respeito no contrato de trabalho em contrário, está previsto que o empregador forneça o material tecnológico para informação e comunicação ao trabalhador, garantindo a sua instalação, manutenção e pagamento de despesas inerentes. É deveras intrigante que o próprio Ministério da Educação se mostre incapaz de cumprir tal exigência. Face a esta falha tão gritante, não houve, sequer, a preocupação de procurar qualquer tipo de consentimento da parte dos membros do corpo docente para utilizarem, quando o possuem, o próprio material tecnológico, oferecendo em troca uma compensação que, ainda que pudesse ser simbólica, reconheceria o esforço de todos aqueles que dedicam agora ainda mais horas do seu dia para levar o ensino até casa do maior número de alunos possível.
E se o docente for infetado com Covid-19 no local de trabalho ou na deslocação até lá, quem será o responsável? Será ele próprio? Porque são os professores coagidos a saírem das suas casas e a violarem o confinamento obrigatório para fazerem algo tão simples, mas tão essencial como dar uma aula? Muitas destas questões não têm resposta e provavelmente também não terão num futuro próximo.
Resta-nos esperar que possam servir de reflexão e que, desta vez, um possível terceiro regresso ao ensino à distância seja planeado cautelosamente e com a devida antecedência.