Não sou especialista, não sou politica, não sou governante. Sou apenas mae, tia, filha, professora e sobretudo sou gente.
Independente da pouca simpatia que tenho pelo Sr Ministro da Educação, acredito que possa o Sr PM ter sido mal aconselhado, por alguém menos conhecedor da realidade que vivemos nas nossas escolas.
Apesar de alguma teimosia nas suas decisões, também acredito que seja capaz, de fazer este exercício comigo.
Ora vejamos:
Não fechamos as escolas porque o prejuízo para as aprendizagens dos alunos, seriam irreversíveis.
Pois bem, atualmente estes são os cenários que vivemos:
Turma completa de quarentena – ensino à distância. A escola resolve.
Metade da turma em regime presencial, outra metade em modalidade de ensino à distância. A escola resolve.
Três ou quatro alunos que estiveram de quarentena e regressam, para a restante turma que acabou de ser colocada em quarentena. Estes alunos voltam para a escola, porque já não estão em isolamento. A escola resolve.
Três professores positivos em isolamento, 20 em quarentena. A escola resolve.
Sete auxiliares de quarentena e duas com resultados positivos. A escola resolve.
Turmas de 1 ciclo em isolamento, que regressam amanhã, sem terem tido oportunidade de fazer testes. A escola resolve.
Duas salas de JI uma em quarentena, porque a educadora testou positivo e a outra porque faz parte da mesma bolha. Entretanto como outra colega educadora, ficou em isolamento profilatico, porque é contacto de elevado risco, acaba por ficar em casa e os seus meninos também. Estes não têm direito a declaração de isolamento porque a sua educadora, de facto ainda não testou positivo. A escola resolve.
As aulas de EF, têm de continuar. A escola resolve.
Os computadores que temos na escola não têm câmaras, para video conferência, nem largura de banda que permita ensino de qualidade com os alunos que estão à distância. A escola resolve.
Sr PM, afinal a escola só não resolve, a escolha do bicharoco coronavirus, que hoje pode escolher o aluno mais pequeno que por acaso não usa máscara, para se instalar confortavelmente.
A escola não resolve o contágio que esta criança fará ao seu irmão do ensino secundário, que esteve a lanchar perto de um colega de turma, cujo a mãe é professora e que por acaso está a a lecionar à turma que tem apenas quatro alunos em regime presencial, porque os restantes estão de quarentena.
A escola não resolve e não tem recursos humanos para resolver, quando soube hoje que o seu aluno do secundário deu positivo, contagiou a mãe que por sua vez deixará de poder acompanhar os seus alunos presencialmente e à distância. Pelo caminho, esqueci- me do contágio com que a criança de 1 ciclo presentiou o seu avô, que o ia buscar todos os dias à escola. A partir de hoje, coitado já não irá mais. Faleceu com o tal bicharoco, que parece querer arruinar as nossas vidas.
Então Sr PM depois deste exercício considera ainda irreversíveis as aprendizagens?
Irreversíveis são as mortes dos entes queridos que se perdem.
Não sou pessimista, nem alermista. Mas não compreendo de todo, a decisão de não encerrar as escolas. O tempo urge e se não o agarramos a tempo, nem tempo teremos para recuperar seja o que for.
Ensino presencial sempre. Nunca nestas condições.
Encerre as escolas, prolongue o calendário escolar e verá que tudo pode ficar bem.
Ou então, continue nessa teimosia cega, que no final do ano letivo nem professores, nem alunos, nem técnicos, nem auxiliares para puderem usufruir do Plano Digital. Aprendizagens irreversíveis, essas já não farão qualquer diferença, numa escola vazia, e sem ninguém.
Excelente descrição, obrigado!
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