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“A Escola não é uma cantina, um depósito de crianças nem um departamento da assistência social”

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Deixemo-nos de demagogia, que cresce fértil no país, e será cada vez pior com a promoção da ignorância a que assistimos. Uma escola que está no fim do ranking não fez um bom trabalho porque “pelo menos os alunos comem, e não andam no tráfico de droga”.

A escola é um lugar para educar e transmitir o pensamento científico às novas gerações. Não é uma cantina, um depósito de crianças, nem um departamento da assistência social. O professor é um educador, não é um mediador, nem um cuidador, nem um animador cultural. Uma escola com média de 1,7 em 20 é um lugar onde os alunos são analfabetos funcionais.

Contra a direita segregadora que defende a lei da selva, uma parte da esquerda, com responsabilidades governativas, resume a sua política cada vez mais à defesa do Estado Assistencial em vez do Estado Social, universal, de qualidade. O direito à educação plena é basilar de uma sociedade democrática. Que andemos a discutir no século XXI que “pelo menos eles comem” não é um sintoma de boas políticas do governo, é a confissão do seu falhanço total.

Estas escolas servem para produzir mão de obra para limpar centros comerciais às 4 da manhã por 2 euros e meio à hora e serventes de pedreiro. Há bolsas delas nas periferias e, sempre, não muito longe, de centros comerciais gigantes. É preciso parar para pensar em vez de embarcar em discursos bonitos.

Estas crianças têm uma marca de pobreza, que a escola, assim, ajuda a reproduzir, em vez de ajudar a inverter. Discursos de bondade não só não resolvem como ocultam o drama da opção de fazer da escola não o lugar do conhecimento para todos mas a linha de montagem para o mercado de trabalho.

A escola pública ou luta por ser de qualidade para todos, universal, ou o pagamento de impostos não tem qualquer retorno justo. Não acho que os rankings são a solução, mas afirmar que uma escola com estas médias, por critérios relativistas acientíficos, estaria no topo dos rankings é pura demagogia.

Raquel Varela