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“A epidemia de violência contra os professores tem de acabar.” – Rui Zink

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Foi professor de liceu e acumula muitos anos como professor universitário. Como carateriza o sistema de ensino em Portugal, em termos das suas principais debilidades?
Ao nível do liceu, tenho a perceção que há uma excessiva burocratização e desautorização do professor. A ferida aberta pela ex-ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, ainda não foi fechada. Há uma arrogância e uma petulância que contribuiu para o esvaziamento do poder e bem estar dos professores. Fui professor de liceu durante quatro anos e adotava estratégias didáticas que hoje seriam inaceitáveis. Não sou saudoso do tempo em que o professor podia dar reguadas nos alunos, mas convém que a figura do professor tenha instrumentos de autoridade. O que eu vejo é que neste momento existe um esvaziamento da função do professor.

O professor está desamparado na sua retaguarda?
É importante que exista um Conselho Diretivo forte, que esteja entrosado e do lado dos professores. Se não houver, os professores sentem-se abandonados, com uma sensação de medo e depressão. Se o professor não estiver bem, a aula não funciona.

Os recentes casos de violência contra docentes são sinais do mau estar?
A epidemia de violência contra os professores tem de acabar. E para isso é preciso punir. Um pai que agrida um professor deve passar dois dias no calabouço. E perante um professor abandonado e um grupo de adolescentes com demasiado poder, não é de estranhar que tenhamos comportamentos fascistas. Em bando, todos nós podemos virar matilha.

A escola pública tem vindo a perder peso e prestígio para a escola privada?
Eu parto desta premissa: «diz-me onde o ministro põe os seus filhos a estudar e dir-te-ei quem és.» O esvaziamento do ensino numa era democrática beneficia quem tem dinheiro para colocar os filhos a estudar noutros estabelecimentos. Eu possibilitei aos meus filhos estudarem no estrangeiro porque o maior benefício que lhes podia dar era eles serem cosmopolitas e terem mundo. Custou dinheiro? Sim, mas eu não sou ministro da educação. Não pense que estou de má fé, mas em teoria já viu que a melhor forma de eu facilitar a vida dos meus filhos é baixar a qualidade de ensino dos seus futuros concorrentes, para os meus filhos serem os únicos a ter 18 valores? Se eu puder ser ministro de um governo que tem muito amor pela educação, então eu tenho a «arma» certa. Nos meus momentos mais tristes, suspeito que há um complô interpartidário – ou intercasta – para baixar o nível do ensino e para deprimir os professores. E professores deprimidos não podem ser bons.

Quem é que protagoniza esse «complô interpartidário»?
É uma espécie de Maçonaria ou Opus Dei secreta.

Leia a entrevista completa aqui