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A Educação reconhece, Carlos do Carmo permanecerá

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O 1.º dia do ano sussurrou-nos um cântico triste – o da inesperada partida do Senhor Carlos do Carmo.

Confesso que a pesarosa notícia me transportou de imediato à casa dos meus queridos e saudosos pais, a um tempo de meninice e de adolescência, em que, juntamente com eles, eu e a minha irmã nos deleitávamos com o fado tão bem cantado por este notável intérprete. E as letras das suas músicas, ainda hoje as sei de cor, fortes, emotivas e, de igual forma, tão acutilantes.

Canoas do Tejo, Lisboa Menina e Moça, No Teu Poema, Os Putos, Por Morrer Uma Andorinha, Mar Português, Estranha Forma de Vida, Retalhos da Vida de Um Médico e Fado da Saudade são alguns dos temas que me assomam de imediato à memória, de entre tantos que compõem o seu vastíssimo repertório musical dedicado ao fado, a um fado moderno, revitalizante e com tantas influências de outros estilos musicais.

Pessoa de fino trato, de sensibilidade à flor da pele, foi um Homem bom, figura incontornavelmente das mais eminentes e reconhecidas do nosso país, mas também estimada além-fronteiras.

Detentor de inúmeros prémios, nacionais e internacionais, Carlos do Carmo demonstrou sempre uma força e jovialidade apenas detidas pelos seres humanos de exceção. E, neste sentido, a sua influência foi decisiva para a elevação do Fado à categoria de Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 2011.

Carlos do Carmo, ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira, pisou os principais palcos mundiais, prestigiando o país onde quer que atuasse ou fizesse chegar a sua voz. Excelente embaixador de Portugal, conjugava a elegância e a postura clássica com a lisura das palavras, cultas, fluidas e límpidas e de marcada sensibilidade crítica. Apesar de nunca termos contactado pessoalmente, fazia transparecer uma personalidade humanista, generosa e resiliente, que nos cativava a todos.

Inspirando muitos outros artistas e músicos, e todos quantos o admiravam, deixa um legado profissional irrepreensível e que incute enorme responsabilidade ao país, de forma a não ser descurado, antes porém, acarinhado e perpetuado ativamente, não ficando refém apenas de um cantinho de memórias inesquecíveis.

O dia de Luto Nacional, decretado pelo governo, e assinalado na próxima 2.ª feira, deverá, durante toda a semana, ser aproveitado para nas aulas de Cidadania e Desenvolvimento, de Português, Educação Musical, entre outras disciplinas, dar a conhecer a Vida e Obra, bem como as qualidades que definem este grande Senhor, que com sua morte deixa o país culturalmente mais depauperado.

E a Educação assume um papel fundamental, de incalculável valor, ao dar a conhecer os grandes vultos da Literatura, da Música, das Artes, do Pensamento, etc. porque deste modo pode, respeitosa e humildemente, chamar a si as qualidades nobres e superiores que expressa sobre os que tão bem retratam não só a nossa identidade, mas também a portugalidade, e que motivam a construção dos saberes e das aprendizagens dos nossos jovens.

Paz à alma de uma pessoa que guardamos já nos nossos corações.

Fonte: TSF